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segunda-feira, 31 de agosto de 2015

A Graça nos dá tudo e exige tudo - Lc 14.15-35


No Evangelho segundo Lucas, o bloco que vai de 9.51 a 18.14 narra a subida de Jesus para Jerusalém. Neste bloco está incluído o nosso texto, Lc 14.15-35. Para entender nosso texto, precisamos entendê-lo à luz do capítulo 14.
Lucas 14.1-6 narra a cura de um hidrópico num sábado, enquanto Jesus comia na casa de um fariseu (participava de um banquete). Os demais textos do capítulo 14 tem ligação com esta passagem. Um doente era considerado pela teologia tradicional como alguém que está debaixo da ira de Deus e, portanto, não tem a mesma dignidade religiosa de uma pessoa sã.
Após curar o hidrópico, e deixar claro que Deus acolhida aquele homem, em Lc 14.7-14 Jesus propõe uma parábola ou comparação: quando você for à um banquete, seja humilde e escolha o último lugar, para não correr o risco do anfitrião pedir para você ceder o lugar para um convidado mais digno que tu. Por outro lado, escolhendo o último lugar, você pode até ser honrado pelo anfitrião, caso peça para que você se assente num lugar melhor. Os escribas e fariseus religiosos não podiam continuar achando que no banquete do Reino de Deus eles eram melhores que os doentes! Não podemos nos considerar melhores que os outros!
Em Lc 14.15-24 Jesus continua no tema do banquete a partir de uma outra parábola. Um homem ofereceu um grande banquete e convidou a muitos. Chegando a hora do banquete, o anfitrião envia seu servo para avisar aos convidados que a hora da grande ceia havia chegado. Mas os convidados começam a declinar do convite, dando as mais diversas desculpas: comprei um campo, uma junta de bois, casei... O anfitrião se enche de ira (v. 21), e envia seus servos para convidarem os marginalizados: pobres, aleijados, cegos e coxos (como o hidrópico!). Havendo ainda lugar, manda chamar os que estão pelos caminhos e atalhos. Jesus, então, declara que nenhum daqueles homens que foram convidados provará a minha ceia! Enquanto os doentes, pobres e marginalizados participariam do banquete, os primeiros convidados, representados pelos escribas e fariseus, estavam se esquivando do convite! Até mesmo os gentios entrariam!
Finalmente, chegamos ao nosso texto, Lc 14.25-35. O texto tem uma relação clara com todo o restante do capítulo. Jesus veio e pregou a todos o Reino de Deus, exortando para que cada um se arrependa dos seus pecados e se submeta ao Rei. O Reino de Deus é o reinado de Deus sobre toda a criação. No Reino de Deus há espaço para apenas um Rei: o próprio Deus. Neste reino, todos se tornam servos de Deus.
Jesus dirige a palavra às multidões que o acompanhavam, e faz uma afirmação fundamental:
"Se alguém vem a mim e não aborrece a seu pai, e mãe, e mulher, e filhos, e irmãos, e irmãs e ainda a própria vida, não pode ser meu discípulo. E qualquer que não tomar a sua cruz e vier após mim não pode ser meu discípulo (...). Assim, pois, todo aquele que dentre vós não renuncia a tudo quanto tem não pode ser meu discípulo" (Lc 14.26-27,33).
O que é um discípulo? Ora, "Em Antioquia, foram os discípulos, pela primeira vez, chamados cristãos" (At 11.36c). Um discípulo é alguém que crê em Jesus Cristo e o segue no caminho da cruz.
Os Evangelhos são narrativas que apontam para a cruz e a ressurreição de Jesus. A maior parte dos evangelhos narram a atividade de Jesus em direção à Jerusalém e a última semana em Jerusalém, onde foi crucificado e ressuscitou ao terceiro dia. Jesus veio para nos reconciliar com Deus.
Deus nos criou com amor à sua imagem e semelhança. O ser humano deveria refletir na criação o amor e a justiça de Deus (Gn 1-2). No entanto, o homem pecou. E o que é o pecado original? Não é comer maçã, mas é querer ser como Deus e reinar no seu lugar. É isso que o primeiro casal fez quando, ao invés de dar ouvidos às palavras amorosas e cuidadoras de Deus, quis ser o próprio rei e fazer a sua própria vontade. Querendo ganhar a própria vida, a perderam! O pecado gerou 4 grandes crises de relacionamento no ser humano: a crise teológica (relação com Deus); a crise psicológica (relação consigo mesmo - auto-estima); a crise sociológica (relação com o próximo) e a crise ecológica (relação com o restante da criação de Deus). Jesus é o único ser humano que superou todas estas crises, viveu sem pecado, se submeteu completamente ao reinado de Deus, e assim pode assumir na cruz os nossos pecados, para que pudéssemos assumir a sua justiça. A graça de Deus é a manifestação do seu amor incondicional. Nós não podemos fazer nada para merecer a salvação que há em Cristo Jesus. No entanto, a graça não é uma "graça barata"; a salvação não é "de graça", mas sim "pela graça", pois Jesus pagou um alto preço. Por este motivo, o caminho da graça é a fé, que não é a capacidade em acreditar em doutrinas, mas é uma relação nova de confiança e fidelidade com Deus. A graça nos dá tudo, mas exige tudo! O cristão, o discípulo de Jesus, é alguém que, pela graça de Deus, tem seus pecados perdoados e é transformado pela glória de Deus para viver uma relação nova com Deus, na qual se submete à Ele por amor e gratidão - mas se submete à Ele! Quem está na graça faz a vontade de Deus (Mt 7.21-23)! Por isso, crer em Cristo é se abrir para a graça maravilhosa de Deus, que nos leva à uma relação nova com Deus: amor a Deus acima de todas as coisas (Mt 22.34-40), ou seja, amor que se entrega, que serve, que se submete (1Co 13.4-7). A graça de Deus nos dá tudo (amor, fé, paz, perdão), mas exige tudo (amor a Deus acima de tudo e de todos).
A todos aqueles que querem ser cristãos, Jesus dá um conselho importante: antes de se tornar discípulo, calcule os custos (vv. 28-32)! Antes de construir uma torre ou sair em guerra com outro rei, devemos refletir se temos recursos suficientes para terminar o que começamos com êxito. Do mesmo modo, quem quer se tornar cristão deve entender que a graça de Deus custa nada mais nada menos que TUDO! É como a parábola do tesouro escondido: "O reino de Deus é semelhante a um tesouro oculto no campo, o qual certo homem, tendo-o achado, escondeu. E, transbordante de alegria, vai, vende tudo o que tem e compra aquele campo" (Mt 13.44). O homem encontrou um tesouro maravilhoso! Tudo o que ele tinha era pouco, comparado com aquele tesouro. Por isso vai, entrega tudo o que tem para ficar com o tesouro. Nada ou ninguém é adequado para ocupar o trono da sua vida - inclusive você mesmo. Nós fomos criados para Deus e a nossa vida só será vida em conexão com Deus. Mas Deus é o Rei do seu Reino. Ele nos dá tudo, mas exige tudo! Isso não significa que você deva deixar de amar a sua família ou dar todo o seu dinheiro para alguma igreja, muito pelo contrário. Você deve amar a Deus de tal modo que vai amar a sua família, seus amigos e mesmo os seus inimigos. Deus te ama e te chama para amá-lo acima de todas as coisas. Deus cuida de ti e te chama para cuidar do outro. Deus te perdoa e te chama para perdoar.
Jesus, o Filho de Deus feito homem, entregou tudo ao Pai. Nós, seus discípulos, devemos fazer o mesmo. Cruz é a negação da própria vontade para fazer a vontade de Deus.
"Quem acha a sua vida perdê-la-á; quem, todavia, perde a vida por minha causa achá-la-á" (Mt 10.39).
Cristão que não ama a Deus acima de tudo, que não se entrega a Deus numa relação nova de amor e gratidão em Cristo, é sal que não salga.

A graça de Deus nos dá tudo e exige tudo.
Tudo é pequeno demais diante de uma graça tão grande.

Fonte da imagem: http://i0.wp.com/www.consulte-teologia-aluzdabiblia.net/wp-content/uploads/2015/09/depositphotos_23760635-Jesus-Christ-carrying.jpg

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