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sábado, 30 de março de 2013

Fé a Serviço da Vida (Mt 12.1-14)


Que tipo de fé nós vivemos? Será que vivemos uma fé à serviço da vida, ou vivemos uma fé que escraviza e coloca apenas mais peso nas nossas costas? Em Mt 11.28-30 Jesus faz um convite (no imperativo!): “Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para a vossa alma. Porque o meu jugo é suave, e o meu fardo é leve”. A seguir, no capítulo de Mt 12, estas palavras são demonstradas na atitude da vida do próprio Jesus. Os dois primeiros blocos (Mt 12.1-8 e 9-14) narram duas histórias, em que Jesus ensina algo fundamental sobre a vivência da nossa fé.
Em Mt 12.1-8, Jesus está andando com seus discípulos numa ceara em dia de sábado, e seus discípulos, famintos, colhem espigas para comer. Os fariseus, vendo aquilo, ficaram escandalizados, pois segundo a sua tradição religiosa ninguém podia colher espigas num sábado. Questionado por eles, Jesus responde a partir das Escrituras, e ensina uma lição muito importante: a vida (discípulos com fome) é muito mais importante que regras religiosas caducas, que só aumentam o peso na vida das pessoas. Deus é a favor do faminto, é a favor da vida! Por isso Jesus repreende os fariseus citando o profeta Oséias: “mas, se vós soubésseis o que significa: misericórdia quero e não holocaustos, não teríeis condenado inocentes”(Mt 12.7, cf. Os 6.6).
Em Mt 12.9-14 Jesus entra na sinagoga deles (fariseus), no mesmo sábado. Na sinagoga está um homem que tinha uma das mãos ressequida. Os fariseus, “com o intuito de acusá-lo, perguntam a Jesus: é lícito curar no sábado?” (v. 10). Aqui, novamente, fica clara a motivação dos fariseus: não estão preocupados com a glória de Deus e com o bem-estar do semelhante. Querem condenar! Estão preocupados com suas próprias regras. Desta vez Jesus confronta os fariseus com uma pequena parábola, que revela a hipocrisia dos fariseus (“qual dentre vós...” – v. 11). Quem, tendo apenas uma ovelha, não a tiraria do buraco num sábado? E se é assim com ovelhas, quanto mais com pessoas! “Logo, é lícito, nos sábados, fazer o bem”(v. 12). Jesus então cura o homem no sábado, e por isso os fariseus passaram a conspirar contra ele!
Jesus nos ensina que a fé deve ser fé a serviço da vida (famintos, doentes, pecadores, necessitados de toda espécie), pois Deus é fonte da vida, o doador da vida e o restaurador da vida. Se Deus é a favor da vida, nós também devemos ser. Deus não quer que vivamos uma religiosidade de “obrigação”. Quando a fé deixa de ser uma manifestação de amor e gratidão a Deus e passa a ser uma obrigação, algo muito errado está acontecendo. Quem conhece a Deus não vive a fé por obrigação, mas por amor e gratidão a Deus.
Deus nos leva muito a sério, a ponto de, na pessoa do Filho, se fazer homem, viver uma vida sofrida (pobre, perseguido, descriminado, abandonado, negado, traído), morrer pelos nossos pecados... Mas Jesus ressuscitou ao terceiro dia, e vive e reina hoje! Por nos levar tão a sério, Deus não admite que alguém não O leve a sério.
Viva uma fé realmente viva! Não se acomode à uma religiosidade fria e sem Deus. A fé em Cristo nos leva a buscar viver para a glória de Deus, a favor do outro, principalmente dos necessitados (famintos, doentes, pecadores, pobres, confusos). Que Deus nos abençoe a viver uma fé viva, que glorifique a Deus através da promoção da vida!  

sexta-feira, 29 de março de 2013

Feliz Páscoa!

Feliz Páscoa!

Confira este lindo vídeo, de crianças de uma comunidade Luterana de Curitiba (PR).





terça-feira, 26 de março de 2013

Reino de Deus ou Império do Pastor?


A revista Cristianismo Hoje de fevereiro/março de 2013 publicou uma matéria com o título “Prosperidade Total”. A matéria traz o ranking dos “pastores” mais ricos do Brasil, segundo o levantamento da revista Forbes Brasil. Segundo a revista, os cinco “pastores” mais ricos são os seguintes:

POSIÇÃO

NOME

IGREJA
PATRIMÔNIO ESTIMADO (EM DÓLARES)


Edir Macedo
Igreja Universal do Reino de Deus

U$ 950 milhões


Valdemiro Santiago
Igreja Mundial do Poder de Deus

U$ 220 milhões


Silas Malafaia
Igreja Assembléia de Deus Vitória em Cristo

U$ 150 milhões


R. R. Soares
Igreja Internacional da Graça de Deus

U$ 125 milhões

Estevan e Sônia Hernandes

Renascer em Cristo

U$ 65 milhões

                Eu creio em um Deus Eterno e Todo Poderoso. Eu creio que tudo o que existe pertence a Deus. Eu creio que Deus nos ama e que tem prazer em nos abençoar. Eu acredito que pastores, missionários e obreiros devem ser tratados pela Igreja de Cristo com respeito e dignidade, devendo ela proporcionar ao pastor e a sua família uma vida digna. 
                Eu acredito que o único pastor que é dono da Igreja é o Pastor e Bispo das nossas almas, Cristo (1Pedro 2.25). Nenhum outro pastor além de Cristo deve pensar que é dono da Igreja, pois a Igreja não é uma mera instituição ou um lugar, mas a Comunhão do Corpo de Cristo, formado pelos filhos e filhas de Deus em Cristo espalhados por toda a terra. Acredito também que, mesmo quando o assunto sejam as instituições que chamamos igrejas (as com CNPJ), igualmente pastor algum, seja o “fundador”,  o “Bispo”, “Apóstolo”, “Missionário”, “Profeta”, ou seja lá o nome que você quiser dar, enfim, pastor algum tem o direito de se apropriar do patrimônio da igreja como se fosse patrimônio próprio.
Alguns pastores milionários são “mais espertos”  e afirmam que não recebem da igreja, etc. etc. etc. Mas estes mesmos aparecem nos meios de comunicação (TV, internet, rádio, etc.) chamando algum pastor “laranja” (geralmente algum televangelista filho do “Tio Sam”) que afirma mais ou menos o seguinte: “deposita mil reais na conta corrente do pastor Fulano de Tal como uma ‘semente de fé’, e você será um dos ‘campeões da fé’”; ou: “quer se livrar do aluguel? Então deposita o valor de um mês de aluguel na conta do pastor Fulano de Tal, e seus problemas com aluguel acabaram”. É uma tragédia! Eu chamo essas mensagens de “Evangelho das Organizações Tabajara”:  - “Faça isso (dê dinheiro prá nós) e seus problemas acabaram!” (Aqui, “Organizações Tabajara” é uma referencia ao quadro do programa de humor).
No passado eu considerava curioso a escolha da palavra "Reino" para expressar a realidade do governo de Deus, ao invés da palavra “Império”. É curioso, pois o Novo Testamento foi escrito na época do Império Romano. Além disso, império é maior que reino, já que um império pode ter vários reinos sob o seu domínio. Império é uma palavra universal, mundial, internacional. Reino parece ser uma realidade mais local. Afinal, por que a Bíblia escolheu a palavra “Reino” para expressar o governo de Deus? Eu creio que a razão seja simples: o Reino de Deus não reconhece outro reino! Para você ter um império é necessário a existência de vários reinos. E esta é a grandeza do Reino de Deus: é o não reconhecimento de nenhum outro reinado! É o não reconhecimento inclusive do Império Romano, ou qualquer outro reino, império ou soberania alheio ao reinado do próprio Deus! Não é maravilhoso?
Pois bem, algumas igrejas (instituições) tem nomes com característica de império (Universal, Internacional, Mundial...). E, de fato, várias delas tem edificado alguns impérios (empresariais, imobiliários, financeiros), que, infelizmente, não tem muito a ver com o Reino de Deus. Algumas outras igrejas (instituições) não tem nomes com característica de império, mas nem por isso deixam de edificar pequenos impérios para seus proprietários.
EU TENHO MUITA VERGONHA. Fico com muita vergonha quando vejo uma instituição que recebe o nome de Igreja se converter em fonte de lucro financeiro de pastores imperialistas, de pastores que estão edificando seus próprios impérios. É sempre bom lembrar que a Reforma Protestante no século XVI teve início exatamente com a denúncia acerca da venda da bênção ou da salvação! Como cristãos, não podemos nos conformar com aqueles que querem fazer da Palavra de Deus uma mercadoria (2Co 2.17)!!! Há muitas igrejas e pastores sérios, que anunciam o Evangelho de Cristo com amor e fidelidade. Não vamos nos conformar com este "falso evangelho" que está sendo pregado (Gl 1.8).
Eu não quero saber de Impérios pastorais. Eu prefiro o Reino de Deus. Eu não quero saber do falso “Evangelho das Organizações Tabajara”, mas sim do antigo Evangelho, o Evangelho de Cristo, o Evangelho da Bíblia, o Evangelho da cruz e da ressurreição de Jesus.
Eu tenho muita vergonha dos impérios pastorais, mas eles logo passarão. Minha alegria, meu consolo, é que os impérios estão com os dias contados, mas o Reino de Deus é eterno!

                A Deus toda a glória!

Fonte da imagem: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiD1UbxowDwLtsZtm2iw2tVggdcRvy7270z2V9BNoYJYAUKAYofCcB7IcfsrZ-zI7z_JH-SLrGokKav9rITgmowDgyxJ-LCfeiIh7nY1zUagwgC9egvR6Ejg7yENlDqs1Qbx9qs92Nh7CVO/s1600/Pastores.JPG

segunda-feira, 25 de março de 2013

As Sete Palavras da Cruz

No próximo domingo, dia 31 de março de 2013, celebraremos a Páscoa, a festa cristã mais importante. A Páscoa é o coroamento da semana da Paixão, fundamento do Evangelho: “Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras, foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras” (1Corintios 15.3-4).
Antes de morrer pelos nossos pecados e ressuscitar para a nossa salvação, Cristo, na cruz do Calvário, pronunciou sete palavras, ou frases, que expressam de maneira maravilhosa quem é Ele e qual a missão para a qual Deus Pai o enviou ao mundo (João 3.17). Vamos agora meditar sobre as sete palavras da cruz.

INTRODUÇÃO
                As autoridades religiosas judaicas tramaram contra Jesus, incitando a multidão a pedir a sua crucificação. A multidão clamou: “Crucifica-o, crucifica-o”. Pressionaram também Poncio Pilatos, que ao invés de agir de acordo com a justiça, cedeu a pressão das massas (opinião pública) – ver Mc 15.6-15. E alguns ainda dizem que “a voz do povo é a voz de Deus!”. Jesus foi, então, condenado injustamente a morte de criminosos, morte de cruz, morte maldita segundo a Lei de Deus (Deuteronômio 21.23). Paulo nos ensina que “Cristo nos remiu da maldição da Lei tornando-se maldição por nós”. (Gálatas 3.13).
                Ao contrário do que vemos em quadros ou esculturas, na época do Novo Testamento os crucificados eram presos nus no madeiro. Além de todo o sofrimento físico, havia a dor da vergonha, além da dor da opressão e da violência que ferem o coração. Jesus, na cruz, sofreu com toda a intensidade de todas as maneiras imagináveis.
                A cruz tem um duplo aspecto: humano e divino. No aspecto humano, foi a maior tragédia de injustiça que já aconteceu, pois o único ser humano que jamais pecou (Hebreus 4.15) foi condenado a morte de cruz. Nunca houve e nunca jamais haverá injustiça tão grande sobre a terra! A cruz é o testemunho claro de que “todos pecaram e carecem da glória de Deus” (Romanos 3.23). A cruz é um espetáculo horrendo da nossa injustiça e pecado! No aspecto divino, no entanto, a cruz revela o amor e a soberania de Deus. Deus é tão poderoso e tão maravilhoso que Ele é capaz de canalizar mesmo os atos de injustiça e maldade das pessoas para que os seus planos de paz, bem e salvação sejam realizados. Assim como o ser humano consegue canalizar o leito de um rio para que corra numa nova direção, a fim de que algum plano seja realizado, Deus canalizou o pecado e a maldade das pessoas contra o Seu Filho para que fosse comprido o seu desígnio de amor, misericórdia, graça e perdão! Sendo assim, no aspecto divino, a cruz é a maior manifestação de amor que já existiu, na qual “Deus prova o seu próprio amor para conosco pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores” (Romanos 5.8). É claro que Deus é bom, não se alegra com o mal e não pode ser responsabilizado pelo mal. No entanto, Ele é poderoso para canalizar o mal para que os seus desígnios de salvação sejam realizados.
Feitas estas considerações iniciais, vamos agora meditar sobre as sete palavras que Jesus disse, pregado na cruz!


PRIMEIRA PALAVRA:
"Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem" (Lucas 23.34).

                A primeira palavra é a palavra do perdão. Jesus clamou ao Pai por aqueles que fizeram o mal contra ele mesmo: as autoridades judaicas, que manipularam a multidão e pressionaram Poncio Pilatos para que o condenasse; as multidões, que num momento clamaram “Hosana ao Filho de Davi! Bendito o que vem em nome do Senhor! Hosana nas maiores alturas!” (Mateus 21.9), estavam clamando logo depois “Crucifica-o” (Marcos 15.14); os discípulos, que o abandonaram quando foi preso e, depois, o “seguiram de longe” (Lucas 23.49).
                A Páscoa nos lembra que devemos perdoar aqueles que nos fizeram mal. Enquanto não perdoamos, ficamos acorrentados com a pessoa que nos ofendeu. Quando perdoamos, somos libertados para cultivar uma nova relação, uma nova ligação: laços de amor, de comunhão!


SEGUNDA PALAVRA:
"Em verdade te digo que hoje estarás comigo no paraíso" (Lucas 23.43).

                Curiosamente estas palavras foram ditas a um “malfeitor” crucificado. As palavras deste malfeitor arrependidos são impressionantes: “Jesus, lembra-te de mim quando vieres no teu reino” (Lucas 23.42). Nesta simples frase o malfeitor expressa uma profunda fé em Jesus. Vejamos:
a) “lembra-te de mim”. Ele confiou em Jesus, em sua misericórdia, em sua missão de salvador.
b) “quando vieres”. Jesus estava crucificado e haveria de morrer em poucos instantes! E o malfeitor creu que Jesus haveria de vir novamente! É uma afirmação impressionante de que Jesus haveria de ressuscitar e voltaria para o seu povo!
c) “no teu reino”. Jesus é o Cristo, o Messias, ou seja, o rei prometido da descendência de Davi (Mateus 1.1), que haveria de trazer salvação para Israel. O malfeitor expressa, portanto, a fé de que Jesus é o Messias prometido para trazer salvação; é o Salvador!
                A este malfeitor, que demonstra arrependimento e fé em Jesus Cristo, que confia a Cristo a sua vida, Jesus diz estas palavras tão lindas e tão benditas: “Em verdade te digo que hoje estarás comigo no paraíso” (Lucas 23.43). É salvação pela graça de Deus, mediante a fé em Cristo Jesus! (Efésios 2.8-10).
                A Páscoa nos lembra que Jesus não veio condenar o pecador, mas trazer perdão, nova vida, enfim, salvação! “Porquanto Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que julgasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele” (João 3.17). A Páscoa é tempo de esperança para o pecador que se arrepende dos seus pecados e se entrega ao único Senhor e Salvador, Jesus Cristo!


TERCEIRA PALAVRA:
"Vendo Jesus sua mãe e junto a ela o discípulo amado, disse: Mulher, eis aí teu filho. Depois, disse ao discípulo: Eis aí tua mãe. Dessa hora em diante, o discípulo a tomou para casa" (João 19.26-27).

                Diante de tanta dor e sofrimento, Jesus continuou cuidando das pessoas! Se importou com a sua mãe, Maria, que era viúva e não tinha na época condições de viver dignamente sozinha. Vivemos uma sociedade que incentiva o egoísmo, o consumismo, o hedonismo. Precisamos aprender com Jesus a olhar para o próximo, mesmo nos momentos em que nós mesmos estamos sofrendo. Sofrimento não é desculpa para parar de amar e de agir em favor do outro! Precisamos aprender com Jesus a olhar para a família, que tem sido tão atacada pela violência e pela infidelidade dentro da própria família!
                A Páscoa nos lembra que é tempo de amar, de ajudarmos uns aos outros, mesmo em meio a dor e ao sofrimento próprio. É tempo de ajudar inclusive quem não tem mais condição de nos ajudar no nosso sofrimento! É tempo graça! É tempo de misericórda! É tempo de amor!
               

QUARTA PALAVRA:
"Eli, Eli, lamá sabactâni? O que quer dizer: Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?" (Mateus 27.46 e Marcos 15.34).

                Alguns ficam escandalizados quando ouvem estas palavras de Jesus. Mas estas palavras são maravilhosas! Elas expressam, ao mesmo tempo, a dor e a esperança de Jesus! Expressam a dor porque, na cruz, Jesus tomou sobre si toda forma de sofrimento humano, inclusive o sentimento de ser abandonado por Deus. Quantas vezes clamamos e parece que Deus não ouve a nossa oração? No entanto, estas palavras expressam também a confiança de Jesus no Pai, pois são uma citação de um salmo muito interessante da Bíblia, o Salmo 22, que diz o seguinte:
“Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste? Por que se acham longe de minha salvação as palavras de meu bramido?  Deus meu, clamo de dia, e não me respondes; também de noite, porém não tenho sossego.  Contudo, tu és santo, entronizado entre os louvores de Israel. Nossos pais confiaram em ti; confiaram, e os livraste.  A ti clamaram e se livraram; confiaram em ti e não foram confundidos” (Salmo 22.1-5).
Já nos primeiros versos, fica claro que o salmista está passando por um momento muito difícil da vida, em que “parece” que Deus não está ouvindo a oração. No entanto, o salmista deixa claro que Deus é Rei, é Santo, e é digno de confiança, pois salvou o seu povo no passado e certamente não mudou! Isso fica ainda mais claro no decorrer do salmo até o seu fim, no qual o salmista declara a sua confiança no Senhor. O Salmo termina falando do reinado de Deus sobre as gerações que virão!
                A Páscoa é tempo de lembrar que, apesar de toda a dor e sofrimento que possamos passar, apesar dos momentos em que “parece” que Deus está distante e não nos ouve e nem age, cremos que Deus está presente e continua agindo em nosso favor, assim como aconteceu com o povo de Deus no passado. A Páscoa é tempo de esperança, mesmo em meio a dor e ao sofrimento. A Páscoa é tempo da solidariedade de Deus em meio ao nosso sofrimento!


QUINTA PALAVRA:
"Tenho sede". (João 19.28)

                Quando eu era garoto eu gostava muito de uma música que dizia o seguinte: “Você tem sede de que? Você tem fome de que?” (“Comida”, de Arnaldo Antunes/Sérgio Brito/Marcelo Fromer).
                Jesus disse o seguinte a mulher samaritana: “Quem beber desta água tornará a ter sede; aquele, porém, que beber da água que eu lhe der nunca mais terá sede; pelo contrário, a água que eu lhe der será nele uma fonte a jorrar para a vida eterna” (João 4.13-14). Jesus, a água da vida, aquele que é poderoso para saciar a nossa sede, padeceu necessidade por amor de nós. Nós não fomos capazes de saciar a sua sede, mas Ele é poderoso para saciar a nossa sede. Ele sofreu sede por nós, para que pudéssemos ser saciados, assim como provou por nós a morte, para que pudéssemos viver a sua vida.
                A Páscoa é tempo de refletir sobre a ilusão de consumo em que vivemos. Páscoa não é chocolate, não é coelho, não é presente. A Páscoa não é carro, não é casa nova, não é iate, não é TV, notebook, ipad... O mercado procura nos iludir com o seu show de marketing,  prometendo mas não entregando saciedade. Só na graça de Deus encontramos verdadeira satisfação, verdadeira saciedade. É só em Cristo que podemos matar a nossa fome e matar a nossa sede.


SEXTA PALAVRA:
"Está consumado!" (João 19.30)

                A salvação é uma obra de Deus, uma realização divina, e não humana. Na cruz Jesus foi, ao mesmo tempo, o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo e o sumo sacerdote da nossa confissão, que entrega o cordeiro em sacrifício. Jesus realizou um único e suficiente sacrifício pelo pecado, não pelo derramamento do sangue de touros e bodes, mas pelo derramamento do próprio sangue. E, na cruz, Jesus afirma: “está consumado”. Na cruz Jesus consumou o sacrifício de justiça pelos nossos pecados. Ora, “Jesus, porém, tendo oferecido, para sempre, um único sacrifício pelos pecados, assentou-se à destra de Deus, aguardando, daí em diante, até que seus inimigos sejam postos por estrado dos seus pés”(Hb 10.12-13).
                A Páscoa é tempo de segurança na graça de Deus, pois o sacrifício pelos pecados, único e suficiente, já foi realizado por Cristo.

SÉTIMA PALAVRA:
"Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito!". (Lucas 23.46)
               
                A última palavra de Cristo na cruz é uma palavra de fé, de entrega, de confiança. O Filho de Deus confiou no Pai, e se fez homem segundo a Sua Vontade. Então “o Verbo se fez carne e habitou entre nós...”. Jesus, durante toda a sua vida, apesar de todas as lutas, sofrimentos e perseguições, se manteve fiel ao Pai, mesmo em face da própria morte. Assim, do início ao fim, Jesus nos dá um exemplo de fé, de confiança em Deus Pai.
                A Páscoa é tempo de lembrar que Deus é digno da nossa confiança e que devemos confiar em Deus. A segurança de Cristo diante da morte deve ser também a nossa própria segurança, pois “Cristo é as primícias dos que dormem”, o que significa que depois dele muitos outros ressuscitarão dentre os mortos. Quem dará a última palavra sobre o povo de Deus não é a morte, mas é o próprio Deus! Sendo Deus digno de nossa fé, de nossa entrega, de nossa esperança, nossa atitude diante de todas as coisas, inclusive da morte, será de entrega a Deus!
               

Feliz Páscoa!

segunda-feira, 4 de março de 2013

O Bálsamo de Gileade e a Bíblia


Há um tempo atrás, ouvi um pastor amigo meu, após a pregação, orar para que “o Bálsamo de Gileade” fosse derramado sobre os corações das pessoas. Fiquei pensando: “o que isso significa?”. Que bálsamo é esse?
No dia seguinte, fui conversar com o pastor. Perguntei a ele se havia retirado a referencia do bálsamo da Bíblia ou de um cântico de um grupo chamado "Diante do Trono", da Igreja Batista da Lagoinha. Depois de hesitar um pouco, ele respondeu que foi da música. Para você entender, a música diz o seguinte:

“Vinde, voltemos ao Senhor/ Pois ele nos despedaçou e nos sarará
Fez a ferida e a ligará/ Nos revigorará e viveremos diante dele
Há um bálsamo em Gileade / Há unção em Gileade
Vem sobre mim para curar  / Vem sobre a filha de Sião
Há um médico em Gileade / Há remédio em Gileade
Vem sobre mim para curar / Restaura a filha de Sião”

Eu fiquei preocupado. Vamos dar uma olhada nas referencias do cântico acima e ver de onde veio esta letra. Vamos ver também qual seria a mensagem da música, considerando as suas referencias.

FUNDAMENTAÇÃO BÍBLICA
                Fundamentalmente a letra da música consiste em uma citação de Oséias 6.1-2 (livro do profeta Oséias, capítulo seis, versos um e dois). Vejamos:

Vinde, e tornemos para o SENHOR, porque ele nos despedaçou e nos sarará; fez a ferida e a ligará. Depois de dois dias, nos revigorará; ao terceiro dia, nos levantará, e viveremos diante dele”(Oséias 6.1-2 – Tradução Almeida Revista e Atualizada. Grifo acrescentado).

                A música acrescenta uma estrofe, que parte de uma referencia do verso 8, que fala sobre Gileade (sobre o bálsamo e sobre o médico). 

Agora, vamos analisar o texto bíblico que serve de fundamento para a música. O contexto deixa claro que as palavras que serviram de fundamentação para a música são palavras de um povo cheio de pecados, que não se arrependia, e amava a Deus apenas da boca para fora! Chega a ser assustador. Leia com atenção o texto completo:

“Irei e voltarei para o meu lugar, até que se reconheçam culpados e busquem a minha face; estando eles angustiados, cedo me buscarão, dizendo:
Vinde, e tornemos para o SENHOR, porque ele nos despedaçou e nos sarará; fez a ferida e a ligará. Depois de dois dias, nos revigorará; ao terceiro dia, nos levantará, e viveremos diante dele. Conheçamos e prossigamos em conhecer ao SENHOR; como a alva, a sua vinda é certa; e ele descerá sobre nós como a chuva, como chuva serôdia que rega a terra.
Que te farei, ó Efraim? Que te farei, ó Judá? Porque o vosso amor é como a nuvem da manhã e como o orvalho da madrugada, que cedo passa. Por isso, os abati por meio dos profetas; pela palavra da minha boca, os matei; e os meus juízos sairão como a luz. Pois misericórdia quero, e não sacrifício, e o conhecimento de Deus, mais do que holocaustos. Mas eles transgrediram a aliança, como Adão; eles se portaram aleivosamente contra mim. Gileade é a cidade dos que praticam a injustiça, manchada de sangue. Como hordas de salteadores que espreitam alguém, assim é a companhia dos sacerdotes, pois matam no caminho para Siquém; praticam abominações. Vejo uma coisa horrenda na casa de Israel: ali está a prostituição de Efraim; Israel está contaminado. Também tu, ó Judá, serás ceifado” (Oséias 5.15-6.11 - grifos e destaques acrescentados).

Só para ficar claro, no texto acima os locutores são o SENHOR e o profeta Oséias. Em Oséias 6.1-3 o locutor é Oséias, que expressa o pensamento do povo (texto em vermelho). São palavras de um povo doente, pois ao invés de confiar no Senhor, depositou a sua esperança e a sua fé no rei da Assíria (poder político-economico-militar) - veja Oséias 5.8-14. Depois de citar as palavras deste povo, continua a sua descrição: seu amor é superficial, interesseiro. São transgressores da aliança, infiéis. Seus sacerdotes são como uma “horda de saqueadores”, que cometem assassinatos enquanto se dirigem para o santuário (Siquém). Cometem abominações, como a prostituição – que, nos profetas, costuma ser referencia a idolatria (e confiar no rei da Assíria, ao invés de confiar no Senhor, é expressão de idolatria!).
Dito de outra maneira: o cântico da Igreja Batista da Lagoinha cita as palavras de um povo idólatra, que não amava a Deus de verdade, que tinha uma religião vazia, cujos sacerdotes cometiam homicídios enquanto se dirigiam ao santuário... Um povo que, ao invés de confiar e esperar em Deus, confiava e esperava no rei da Assíria – que, aliás, destruiu Israel!

No verso 8 há uma referencia a Gileade... mas não há referencia a Bálsamo! Pelo contrário: Gileade é a cidade dos que praticam a injustiça, manchada de sangue”. Sendo assim, onde é que a Ana Paula Valadão encontrou o “Bálsamo de Gileade”? A coisa complica se você procurar por outros textos bíblicos que tratam do “Bálsamo de Gileade”. Se você procurar na Bíblia as ocorrências de “bálsamo” e “Gileade” juntas, encontrará três textos:
O primeiro afirma, simplesmente, que os ismaelitas, que vinham de Gileade, vendiam seu bálsamo para o Egito:
 “Ora, sentando-se para comer pão, olharam e viram que uma caravana de ismaelitas vinha de Gileade; seus camelos traziam arômatas, bálsamo e mirra, que levavam para o Egito”(Gênesis 37.25).
O segundo e o terceiro textos que falam sobre bálsamo de Gileade estão no livro do profeta Jeremias:
“Sobe a Gileade e toma bálsamo, ó virgem filha do Egito; debalde multiplicas remédios, pois não há remédio para curar-te”(Jeremias 46.11). 
"Acaso, não há bálsamo em Gileade? Ou não há lá médico? Por que, pois, não se realizou a cura da filha do meu povo?" (Jeremias 8.22).
É interessante que Gênesis 37.25 e Jeremias 46.11 fazem referencia ao Egito: Os ismaelitas vendiam o bálsamo para o Egito, enquanto Jeremias registra um oráculo (palavra de Deus) contra o Egito!
É interessante também que Jeremias 8.22 e 46.11 afirmam que o Bálsamo de Gileade não é capaz de trazer cura para a ferida do povo! Por extensão, o(s) médico(s) de Gileade também não podem trazer cura (Jr 8.22)!!! Consulte um comentário bíblico "decente" sobre Oséias 5.15-7.2. Leia, por exemplo, o comentário do Manual Bíblico da Sociedade Bíblica do Brasil, que dá o título de "Arrependimento que não durou muito" para a passagem de Oséias 6.1-6. Você não vai encontrar  comentário bíblico decente dando enfase ao Bálsamo de Gileade, inclusive em Gênesis 37.25, Jeremias 8.22 e Jeremias 46.11!

Assim, a mensagem que os textos bíblicos anunciam sobre o Bálsamo de Gileade é muito clara:  O BÁLSAMO DE GILEADE NÃO PODE TRAZER CURA PARA A FERIDA DO POVO!

A CURA PARA A FERIDA DO POVO NÃO ESTÁ NUM BÁLSAMO, MAS EM JESUS CRISTO, NOSSO SENHOR E SALVADOR.


CONCLUSÃO
Apesar da extrema simplicidade com que tratamos o assunto, cremos que é o suficiente para concluir, com segurança, que:
a) O cântico “Bálsamo de Gileade”, de Ana Paula Valadão, partiu das palavras de um povo idólatra, superficial, que confiava mais nos homens (rei da Assíria) que no Senhor, e fez dele um cântico de louvor. É algo semelhante a começar a cantar na Igreja uma canção que exalta a verdade e a justiça escrito por Judas Iscariotes, Jezabel ou Balaão, ou mesmo por Renan Calheiros, Fernando Collor de Melo ou José Dirceu.
b) Mais triste ainda, fez uma leitura alegórica acerca de Gileade, que ao invés de fazer referencia a uma cidade de assassinos, como é o contexto do texto bíblico de Oséias, passou, de alguma maneira misteriosa, a se referir ao “bálsamo de Gileade”!?!? É a expressão clara de uma leitura viciada, dependente de idéias estranhas ao texto bíblico, que levam a uma interpretação que fere o texto bíblico e a doutrina.
c) Minha tese é que o meio evangélico brasileiro tem dado uma ênfase exagerada e perigosa a temas como “vitória”, “prosperidade”, “cura”, etc., todos temas legitimamente bíblicos, mas apresentados de maneira distorcida, exagerada.
d) Lendo uma infinidade de sites e blogs sobre o Bálsamo de Gileade, cheguei a uma conclusão: alguém pregou um sermão sobre o Bálsamo de Gileade, com uma interpretação bíblica muito ruim, tendo sido seguido por uma legião de pastores e obreiros que não sabem ler a Bíblia sozinhos, que afirmam que a sua doutrina é apenas a Bíblia, mas que no fundo ficam repetindo sermões e outros discursos dos outros
e) O meu amigo pastor, a que me referi na introdução, apesar de ser um servo de Deus sério, participou deste estouro de boiada que é a teologia apresentada por algumas estrelas do mundo gospel, nem sempre pautadas por uma boa leitura bíblica. Ler a Bíblia, qualquer um lê, mas é necessário que se leia com entendimento. A Igreja Evangélica Brasileira tem trocado os seus mestres (1Co 12.28; Ef 4.11) por animadores de auditório, cantores gospel e vendedores de promessas (ou mesmo de indulgencias evangélicas). 

Ao invés de ficar cantando sobre o “bálsamo de Gileade”, deveríamos cantar sobre o sangue do Cordeiro, que nos limpa de todo pecado.

A Deus toda a glória.

( Leia mais sobre este post em http://marcio-marques.blogspot.com.br/2014/03/o-balsamo-de-gileade-e-biblia-parte-ii.html  )

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