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quinta-feira, 23 de março de 2017

O Credo Apostólico - Lição 2 - Creio em Deus Pai

Hoje em dia, muita gente acha que o importante é ter fé, não importa no quê ou em quem esta fé está depositada.  Segundo as Escrituras, e conforme o testemunho do Credo Apostólico, a fé deve ser depositada no único Deus verdadeiro, o Deus Triúno (único e trino). O único Deus verdadeiro é Pai, Filho e Espírito Santo.


1. A ESTRUTURA DO CREDO APOSTÓLICO
O credo apresenta a seguinte estrutura:
CREIO EM DEUS
     ⇨ Creio em Deus Pai
     ⇨ Creio em Deus Filho
     ⇨ Creio em Deus Espírito Santo
CREIO NA SANTA IGREJA DE CRISTO
CREIO NA SALVAÇÃO
     ⇨ Creio na remissão dos pecados
     ⇨ Creio na ressurreição do corpo
     ⇨ Creio na vida eterna

Em outras palavras, o credo está dividido em duas grandes partes. Na primeira, ele trata da doutrina do Deus único e verdadeiro, Deus Pai, Filho e Espírito Santo. Esta é a primeira e maior parte do credo. Na segunda, ele trata da doutrina da Igreja e da salvação

2. "CREIO EM DEUS PAI, TODO-PODEROSO"
O Pai é a primeira pessoa da trindade. É o Pai quem gera o Filho desde antes da fundação do mundo e é dele que procede o Espírito Santo. O Credo Apostólico chama o Pai de Todo-Poderoso. Vamos estudar agora um pouco do que significa no credo as expressões "Pai" e "Todo-Poderoso", no Antigo e no Novo Testamento .

2.1. DEUS COMO PAI NO ANTIGO TESTAMENTO.
Nesta porção da Bíblia, Deus é chamado de Pai 15 vezes  (Dt 14.1s; 32.6; Sl 68.5; 103.13; Is 63.15s; 64.7s; Jr 3.4s; 3.19s; 31.20; Os 11.1-11; Ml 1.6; 2.10).
Às vezes, é chamado de pai por ser o Criador (Dt 32.6; Ml 2.10).
Outras vezes, é chamado assim por ser misericordioso como um pai (Sl 103.13s).
Outras vezes, por ter escolhido a Israel dentre as nações, entrando com este povo numa relação especial (Dt 14.1s).
Outras vezes, no entanto, Deus é chamado de pai nos profetas para expressar a relação contraditória entre o Deus que ama e o povo que é a ele infiel (Jr 3.4s; 3.19s; Ml 1.6).
É chamado assim também num apelo à sua misericórdia (Is 63.15s; 64,7s), o qual Deus responde com o seu perdão (Os 11.1-11; Jr 31.9,20).
Finalmente, é chamado assim por ser o defensor dos órfãos e viúvas, ou seja, dos necessitados (Sl 68.5).
Conforme afirma Joachim Jeremias, "a última palavra do Antigo Testamento sobre a paternidade divina é esse 'saber' da incompreensível misericórdia de Deus e de seu perdão" .

2.2. DEUS COMO PAI NO NOVO TESTAMENTO.
Segundo os evangelhos, Jesus em suas orações se refere a Deus sempre como "Abbá" (Mc 1.35; 6.46; 14.32-42; Lc 3.21; 5.16; 6.12; 9.28; 11.1), com exceção de Mc 15.34 (par. Mt 27,46) . Segundo o testemunho dos evangelhos, bem como de Rm 8.15 e Gl 4.6, a palavra pela qual Jesus chama a Deus de Pai é "Abbá" , uma palavra aramaica que significa "meu Pai", ou "papaizinho". Abbá é uma palavra de origem infantil, e é como as crianças chamavam seus pais - uma expressão carinhosa de profunda intimidade. Segundo Joachim Jeremias,
"de um lado, as orações judaicas não contém um só exemplo do emprego de abbá para dirigir-se a Deus; por outro lado, Jesus a usava sempre quando rezava (com exceção do grito na cruz em Mc 15.34). Significa que temos aí, incontestavelmente, um traço característico do modo como Jesus, e somente Jesus, se expressava"(₁).

Cremos que este fato expressa o fato de que o Deus Filho é quem revela o Deus Pai, pois o Pai é identificado em relação ao Filho. Neste sentido, a revelação de Jesus Cristo, o Filho de Deus, não é apenas a revelação do Filho, mas também a revelação do Pai, pois o Pai não é outro que o Pai do Filho. É o que nos diz Jo 1.18 e Lc 10.22. É por isso que só se conhece o Pai ao se conhecer o Filho. Por isso também, a revelação de Deus Pai é incompleta sem a revelação do Deus Filho.

Segundo o Novo Testamento, Deus também é Pai porque em Cristo e no Espírito, somos recebidos como filhos (Jo 1.12; Rm 8.15; Gl 4.5-6; Ef 1.5; Rm 8.15).

2.3. O QUE SIGNIFICA CHAMAR A DEUS DE PAI?
Qualquer palavra é imperfeita e insuficiente para expressar a Deus. É por isso que a Bíblia usa imagens para expressar a Deus. Nem tudo pode ser percebido pela razão apenas, e por isso a Bíblia utiliza imagens, para nos falar não apenas com a razão, mas também com o instinto e a emoção. É o que Calvino chama de "acomodação divina", ou seja, que Deus, para se revelar a nós, se acomoda à nossa cultura, para transmitir a sua revelação de uma maneira que possamos entender - como Jesus fez com Nicodemos em Jo 3.12.
Vejamos  algumas imagens que a Bíblia usa para expressar a Deus:
Rocha         - (2Sm 22.2)
Cidadela         - (2Sm 22.2)
Fogo Consumidor - (Hb 12.20)
Isto não significa que Deus seja uma rocha, uma cidadela ou um fogo. Estas expressões querem nos dizer algo sobre Deus. O mesmo acontece com a expressão "Deus Pai".
Nossa cultura tende a valorizar a figura da mãe mais que a figura do pai. Um sinal disso são os valores que se gastam no comércio no dia dos pais comparado ao dia das mães. No tempo e lugar do Antigo e do Novo Testamento, culturalmente a figura mais valorizada era a do pai. No Antigo Testamento, nos quais Deus é comparado com uma mãe (Is 49.15; 66.13). Veja também Mt 23.37 e Lc 13.34. Sendo assim, em que sentido Deus é Pai? Nós, seres humanos, temos pai e mãe. Apenas o pai não pode gerar uma criança, pois também é necessária a presença da mãe. Mas, se Deus é Pai, quem é a mãe? Será que Deus é macho? E se é macho, onde está a fêmea?
Em Gn 1.27, a Bíblia nos diz o seguinte: "Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou". Isto significa que neste verso homem quer dizer ser humano, pois diz respeito ao homem e à mulher. Ambos foram criados à imagem e semelhança de Deus.
Em Mt 22.23-33 e Mc 12.18-27 Jesus afirma que na ressurreição ninguém vai se casar ou permanecer casado, pois seremos como os anjos de Deus. Ou seja, o "ser como anjo" significa que não haverá mais distinção entre macho e fêmea, entre homem e mulher. A condição dos ressuscitados parece refletir a condição de Deus em relação aos gêneros. Se em Gálatas 3.28, Paulo fala da dignidade humana entre macho e fêmea, em Mt 22.23-33 Jesus está falando da condição dos ressuscitados, semelhantes aos anjos e, ao que parece, semelhantes a Deus em relação ao gênero. Se Deus fosse macho, haveria uma fêmea. Mas não há uma deusa. Assim, podemos concluir que Deus está acima das relações de gênero, ou seja, Ele está acima do "ser homem" ou do "ser mulher". Ele é Deus.

Assim, em relação à expressão "Deus Pai", concluímos que:
1) Expressa em primeiro lugar a relação única de Deus Pai com o Deus Filho;
2) Expressa a nossa relação com Deus Pai, que em Cristo e no Espírito nos torna seus filhos, pela sua graça;
3) Não expressa a ideia de que Deus seja macho, nem que seja fêmea, mas que Deus está acima da relação de gênero.

2.4. DEUS PAI TODO-PODEROSO
Por que Deus é Todo-Poderoso? Alguém, certa vez, disse o seguinte: "Se Deus é Todo-Poderoso, será que Ele pode criar um círculo quadrado, ou uma pedra mais pesada que ele possa carregar, ou deixar de existir e voltar a existir em seguida?". Na verdade, estas especulações são pura bobagem. Segundo a Bíblia, Deus é Todo-Poderoso independente destas perguntas tolas, que tem apenas aparência de sabedoria. Deus é Todo-Poderoso porque ele criou todo o que existe (Gn 1.1-2.25; Sl 95.6; Is 40.26; 41.20; 42.5; 45.18; Ap 10.6), e porque domina sobre toda a sua criação (Sl 22.28; 66.7; 89.9; 103.19; Dn 4.32). Em outras palavras, Deus é Todo-Poderoso porque tudo o que existe foi criado por Ele, e todas as coisas estão debaixo do seu poder.
Deus Pai é apresentado na Bíblia como onipotente - ou seja, tem todo o poder - (Jó 42.2; Is 43.13; Mt 19.26; Lc 1.37), onisciente - ou seja, sabe todas as coisas - (Sl 147.5; Hb 4.13; 1Jo 3.20) e onipresente  ou seja, está em todo lugar - (Dt 4.39; Sl 139.8; Is 66.1; Jr 23.24; At 17.27).
Uma outra objeção à doutrina bíblica de que Deus seja Todo-poderoso é atribuída ao filósofo grego Epicuro:
"Ou Deus quer eliminar o mal do mundo mas não pode; ou pode, mas não quer eliminá-lo; ou não pode e nem quer; ou pode e quer. Se quer e não pode é impotente; se pode e não quer, não nos ama; se não quer e nem pode, não é o Deus bom, e ademais é impotente; se pode e quer - e isto é o mais seguro -, então de onde vem o mal real e por que ele não o elimina?"
Segundo a doutrina cristã, Deus é Bom, é Todo-Poderoso e é Onisciente. Mas, se Deus é assim, como responder às objeções
 acima? Segundo as Escrituras, o mal não é uma criatura, assim como os astros, os seres humanos, anjos e animais.
O mal não foi criado por Deus, mas é a expressão do mau uso da liberdade. E este mal JÁ foi DERROTADO na
cruz e na ressurreição de Jesus, mas AINDA NÃO foi DESTRUÍDO. Mas em breve Deus destruirá o mal que já derrotou: Deus
julgará os vivos e os mortos e trará novos céus e nova terra, em que habitam justiça! Portanto, Deus é bom, é Todo-Poderoso e
é Onisciente, e vai destruir completamente o mal que já derrotou na cruz e na ressurreição de Jesus Cristo.
Seria um erro entender que a criação de todas as coisas foi obra do Pai de forma isolada. Tudo é obra da Trindade.
O Credo afirma que o Pai é Criador, mas não exclui a participação do Filho e do Espírito na obra da criação. Afirmando
de forma trinitária, o Pai cria todas as coisas (Sl 95.6) através do Filho (Jo 1.1-3; Hb 1.1-3), e dá vida à criação por meio
do Espírito (Gn 2.7).

2.5. DEUS PAI É TODO-PODEROSO. E DAÍ?
A Bíblia nos ensina que Deus Pai é Todo-Poderoso, e isto tem conseqüências muito grandes na nossa vida.
Em primeiro lugar, esta fé deve nos fazer descansar nEle, pois Ele domina sobre todas as coisas, e cuida de nós (Mt 6.25-34).
Em segundo lugar, esta fé deve produzir em nós esperança, pois Ele é poderoso para cumprir as promessas que nos fez (2Co 1.20; 2Pe 3.9), para nos salvar, e para criar novos céus e nova terra (Is 65.17; 66.22; 2Pe 3.13).
Em terceiro lugar, esta fé deve produzir em nós mais amor, pois Deus é um Pai amoroso (Lc 15.11-32).
Em quarto lugar, esta fé deve produzir em nós temor, pois Deus, com seu conhecimento e poder, julga com justiça, e disciplina aqueles a quem ama (Ap 3.19)

CONCLUINDO
Quando o Credo Apostólico afirma "Creio em Deus Pai Todo-Poderoso", ele quer dizer muitas coisas, entre as quais estão as seguintes:
→ Deus é Todo-Poderoso porque é o Criador de tudo o que existe (Gn 1.1-2.25; Sl 95.6; Is 40.26; 41.20; 42.5; 45.18; Ap 10.6), e além disso tem o domínio e o poder sobre tudo e sobre todos (Sl 22.28; 66.7; 89.9; 103.19; Dn 4.32).
→ No Antigo Testamento, Deus é Pai no sentido de ser o Criador (Dt 32.6; Ml 2.10), por ser misericordioso como um pai (Sl 103.13s), por ter escolhido o seu povo (Dt 14.1s), por não nos tratar de acordo com o mal que merecemos (Jr 3.4s; 3.19s; Ml 1.6), mas de acordo com sua misericórdia e perdão (Is 63.15s; 64,7s; Jr 31.9,20; Os 11.1-11).
→ Deus Pai não cria alheio ao Filho e ao Espírito, mas pelo contrário: O Pai cria todas as coisas através do Filho, e dá vida através do Espírito Santo.
 No Novo Testamento, Deus é Pai por ser o Pai de Jesus Cristo (Mt 3.17; 17,5; 26.39; Mc 1.11; 14.36; Lc 3.21s;  9.35; 10.22; Jo 1.18).
→ No Novo Testamento, Deus é Pai porque somos recebidos por ele como filhos em Cristo (Jo 1.12; Rm 8.15; Gl 4.5-6; Ef 1.5).
→ Para compreendermos mais profundamente o que a Bíblia quer dizer com "Deus Pai", devemos  acrescentar o significado e o valor de mãe (cf. Is 49.15; 66.13). Deus é mais que Pai e mais que Mãe; é Deus.


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Notas
(₁) JEREMIAS, Joachim. "Abbá", p. 23.

quinta-feira, 16 de março de 2017

O Credo Apostólico - 1) "Creio"

Nesta lição, vamos estudar a importância do Credo Apostólico expressa no pela palavra creio, a partir de quatro funções principais : 1) Batismal; 2) Instrutiva; 3) Doutrinária; 4) Litúrgica.

1. O Credo e sua função batismal.  "Creio, logo confesso".
O Credo Apostólico, como vimos na introdução, tem sua origem no "Símbolo de Fé", e no "Credo Romano Antigo" (século II). Ambos  eram confessados no ato do batismo . Isto nos ensina uma lição muito importante: fé viva é fé confessada.
A confissão da fé tem dois aspectos: individual e coletiva.
a) Confissão individual. Quando recitamos o Credo, dizemos: "Creio". Ao dizermos isso, estamos afirmando que a fé é uma decisão , que pela graça de Deus nós tomamos. Isto porque é Deus quem se revela a nós . Ora, "nós amamos porque Ele nos amou primeiro"(1Jo 3.19). Assim, a confissão "creio" é uma decisão, no sentido de uma resposta ao Deus que nos amou primeiro, que se revelou a nós, que tem agido na história pessoal de cada um de nós. Fica evidente a responsabilidade de cada um. Ora, "é pela confissão que o chamado demonstra pertencer a Cristo" .
b) Confissão coletiva. Hoje em dia, tem gente afirmando que ninguém além de si mesmo defende a doutrina verdadeira. Atitudes como estas levam muitas vezes a criação de novas igrejas. Neste sentido, o Credo Apostólico nos ensina que a fé não é apenas individual, mas também coletiva, pois é a fé do povo de Deus. Quando o credo diz: "Creio", está querendo dizer também: "Creio com meus irmãos e irmãs"; "Creio com a Igreja de Jesus Cristo". O próprio contexto batismal confirma esta afirmação, pois no batismo confessamos a nossa fé publicamente (Rm 10.9).
Lutero, o reformador do século XVI, afirmou certa vez: "o lugar do discernimento da Palavra de Deus é a comunidade de fé". Quando disse isso, o reformador estava falando que a fé não deve ser vivida apenas individualmente, mas também em comunidade. A própria doutrina da trindade, que estabelece a estrutura do Credo Apostólico, nos ensina que devemos viver em comunidade. Conforme afirma Karl Barth, "quando o indivíduo diz o sentido do Símbolo, Credo, ele não o faz como um indivíduo, mas ele se confessa, e isso quer dizer - ele inclui  a si mesmo na recognição pública e responsável feita pela Igreja" . O Credo testifica da comunhão que devemos ter uns com os outros, de nossa vida em comunidade (Hb 10.25).
c) Confissão individual e coletiva. Assim, o Credo nos ensina que a responsabilidade de confessar o Deus triúno diante dos homens é tanto individual quanto coletiva, pois o crente só é completo na comunhão com Deus e com a comunidade cristã.

2. O Credo e sua função instrutiva. "Creio, logo conheço".
O Credo era utilizado também como roteiro de ensino da doutrina. Isto porque sintetiza algumas das questões mais importantes da fé cristã, tais como:
a) A Trindade. "Creio em Deus... Pai Todo-poderoso... e em Jesus Cristo, seu único Filho, nosso Senhor... no Espírito Santo". A estrutura do Credo Apostólico é trinitária (Mt 28.19; Ef 2.18; etc.).
b) Encarnação "Creio... em Jesus Cristo ... que foi concebido por obra do Espírito Santo; nasceu da virgem Maria" (Lc 1.34-35; Jo 1.14; Gl 4.4).
c) Morte e Ressurreição de Cristo. "Creio... em Jesus Cristo... padeceu sob o poder de Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado; desceu ao Hades; ressurgiu dos mortos ao terceiro dia".
d) Escatologia. "Creio... em Jesus Cristo... subiu ao céu; está sentado à mão direita de Deus Pai, Todo-poderoso, donde há de vir para julgar os vivos e os mortos".
e) Igreja. "Creio... na santa Igreja Universal, na comunhão dos santos".
f) Salvação. "Creio... na remissão dos pecados; na ressurreição do corpo; na vida eterna" (sobre a ressurreição do corpo, 1Co 15.42,53,54).

3) O Credo e sua função doutrinária. "Creio, logo pratico".
Já na Igreja Antiga, surgiram rapidamente grupos heréticos, ou seja, grupos de defendiam doutrinas que não foram consideradas de conformidade com as Escrituras. A resposta da Igreja a estes grupos foi tripla: O Credo, O Cânon e a Sucessão Apostólica. Vamos estudar como o Credo Apostólico foi uma ferramenta importante no combate às heresias, ou seja, às doutrinas não-Bíblicas.
Alguns destes grupos heréticos do período da Igreja Antiga foram os seguintes: os gnósticos, os marcionitas e os ebionitas (2Pe 2.1).
a) Gnósticos. De acordo com a filosofia grega, e não com as Escrituras do Antigo Testamento, os gnósticos afirmavam que há duas realidades concorrentes: a espiritual, que seria boa, e a física, que seria ruim. Por pensarem assim, afirmavam que Jesus é um ser espiritual, que veio ao mundo para nos dar o conhecimento (gnose) secreto necessário para a salvação.  Os gnósticos negavam a humanidade de Jesus, pois afirmavam que Jesus era homem apenas aparentemente (doutrina conhecida como docetismo).
b) Marcionitas. Filho do bispo de Sinope, e conhecedor da fé cristã, Marcião foi profundamente influenciado pela gnose. Viveu durante o século II. Pensava que o mundo material é mal, e se opunha ao judaísmo (a religião dos judeus da época de Jesus). Fundou a sua própria igreja (At 3.13). Márciom fazia distinção entre o Pai de Jesus Cristo, o Deus supremo que é todo amor, e Jeová, o deus do Antigo Testamento, um deus inferior, ciumento, arbitrário, vingativo, ligado à lei e ao juízo. O Pai de Jesus Cristo o enviou para nos salvar das garras de Jeová. Para Márciom, Jesus não nasceu de Maria, mas surgiu de repente no mundo, já adulto.
c) Ebionitas. Era um grupo de judeus que cria em Jesus de uma forma diferente da nossa. Para eles Jesus é Filho de Deus por adoção (adocionismo), a qual aconteceu ou no Batismo ou na Ressurreição. Cristo é colocado no mesmo nível dos profetas do AT, e é visto como o Novo Moisés (Hb 3.3). Os ebionitas negavam a preexistência de Cristo, seu nascimento da virgem e a encarnação.
Como pudemos perceber, as heresias dos gnósticos, marcionitas e ebionitas giravam em torno da cristologia, ou seja, da doutrina acerca de Jesus Cristo. Por isso o Credo Apostólico trata, em sua maior parte, de Cristo. Mas outro ponto muito importante do credo é a expressão "Creio... na ressurreição do corpo". É interessante notar que os gnósticos e os marcionitas afirmavam que a matéria é ruim, enquanto o credo afirma que o corpo também fará parte da ressurreição, e não apenas o espírito. Deus não faz as coisas pela metade. Vamos ressuscitar inteiros e não como fantasmas (Jo 20.26-29).
No combate às heresias, o Credo Apostólico nos convida para uma fé equilibrada. O credo nos convida à fé testificada nas Escrituras, pois Deus não se contradiz: se ele nos faz revelações hoje, estas estarão de acordo com a Sua Palavra (Hb 13.9; 2Tm 4.3; Tt 1.9, 2.1). O Credo testifica da Palavra de Deus e ensina a confessar a Palavra de Deus. E a Palavra de Deus não é ensino para ficar apenas na cabeça, mas para descer ao coração (sede da vontade) e se tornar vida na nossa vida. Por isso, a função doutrinária não visa o acúmulo de informações sobre a Bíblia, mas a prática da piedade (de uma vida consagrada a Deus).

4) O Credo e sua função litúrgica. "Creio, logo adoro".
Assim como em muitas de nossas reuniões nós oramos o "Pai Nosso" (Mt 6.9-15), na história da igreja muitos de nossos irmãos recitaram o Credo Apostólico como uma expressão de adoração ao Deus único e trino. Neste sentido, o credo nos convida a viver em adoração ao nosso Deus, a partir de uma fé saudável e bíblica. A igreja primitiva também recitava artigos de fé , como pode ser percebido no Novo Testamento:
Confissões de fé: 1Co 15.3-5; Rm 10.9.
Hinos: Fl 2.6-1; Cl 1.15-20.

Assim, percebemos que o Credo Apostólico foi criado como desenvolvimento de uma fórmula batismal, a qual os batizados adultos e os pais das crianças batizadas da Igreja Antiga confessavam no ato do batismo. O credo assumiu a fórmula atual para combater as heresias contrárias a Palavra de Deus, para ensinar a Palavra de Deus e para conduzir o povo de Deus a adoração e ao culto a Deus. Além disso, permanece a função fundamental do credo: o povo de Deus testemunha a sua fé em Deus e nas doutrinas da Palavra de Deus tanto pessoal quanto coletivamente. O Credo Apostólico aponta para a Missão da Igreja de Cristo (Mt 28.18-20) no fazer discípulos, batizar em nome da Trindade e ensinar o povo de Deus na sã doutrina, até a consumação dos séculos.

O Credo Apostólico - Introdução

Vamos começar uma série de reflexões sobre o "Credo Apostólico", também conhecido como "Credo dos Apóstolos". O Credo Apostólico, assim como o Credo Niceno-Constantinopolitano, expressam o que há de fundamental na doutrina cristã. Eles representam o consenso mínimo de doutrina cristã entre a igreja ocidental (Igreja Católica Romana e Igrejas Protestantes/Evangélicas) e a igreja oriental (Igreja Ortodoxa Grega).

Credo é "uma forma fixa que resume os artigos essenciais da religião cristã". Para responder aos desafios dos hereges, ou seja, das pessoas que defendiam doutrinas estranhas à fé cristã, a igreja formulou o chamado "Credo dos Apóstolos". Este credo é chamado assim não porque tenha sido formulado pelos apóstolos, mas porque estava de acordo com a sua doutrina (ver At 2.42). Seu núcleo, o chamado de símbolo de fé, consistia nas perguntas que se faziam ao candidato ao batismo, para verificar se o crente sustentava a verdadeira fé. Com alguns acréscimos, veio a ser o credo que conhecemos hoje.

Pelo seu conteúdo, fica claro que este credo foi formulado já com uma estrutura trinitária (Pai, Filho e Espírito Santo), e tem por objetivo rejeitar doutrinas heréticas. É interessante notar que a maior parte do credo é cristológica, ou seja, se refere a Jesus Cristo, pois as primeiras heresias giravam em torna da doutrina de Cristo. Por exemplo, os gnósticos e os marcionitas, grupos heréticos da época da igreja antiga, afirmavam que Jesus é um ser divino, mas não é humano.

A versão definitiva do Credo Apostólico no ocidente tomou sua forma por volta do ano 750 , mas sua essência data do século II, de um credo romano antigo. Seu núcleo, no entanto, data do primeiro século (símbolo de fé). Eis o Credo Apostólico:

"Creio em Deus Pai todo-poderoso, criador do céu e da terra. 
Creio em Jesus Cristo, seu único Filho, nosso Senhor que foi concebido pelo poder do Espírito Santo; nasceu da virgem Maria; padeceu sob Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado; desceu aos mortos; ressuscitou ao terceiro dia; subiu aos céus, está sentado à dirreita de Deus Pai todo-poderoso, donde há de vir julgar os vivos e os mortos.
Creio no Espírito Santo, na santa Igreja Católica, na comunhão dos santos, na remissão dos pecados na ressurreição do corpo, na vida eterna. Amém".

Conforme o Evangelho de Mateus, Jesus disse: "Portanto, todo aquele que me confessar diante dos homens, também eu o confessarei diante de meu Pai, que está nos céus; mas aquele que me negar diante dos homens, também eu o negarei diante de meu Pai, que está nos céus"(Mt 10.32s). Esta é a atitude do Credo: Confessar publicamente o Deus Triúno diante dos homens.

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