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segunda-feira, 23 de junho de 2014

Qual é o Culto que agrada ao SENHOR? (Isaías 66.1-4)


Texto: Isaías 66.1-4 (Tradução de Almeida, Revista e Atualizada - ARA - SBB)
1   Assim diz o SENHOR:        O céu é o meu trono,        e a terra, o estrado dos meus pés; 
que casa      me edificareis vós?        E qual é o lugar do meu repouso?
2   a. Porque todas estas coisas,        a minha mão fez       e todas vieram a existir, diz o SENHOR, 
b. mas o homem para quem olharei é este:        o aflito e abatido de espírito        e que treme da minha palavra.
3   a. O que imola um boi        é como o que comete homicídio; 
o que sacrifica um cordeiro,        como o que quebra o pescoço a um cão; 
o que oferece uma oblação,        como o que oferece sangue de porco; 
o que queima incenso,        como o que bendiz a um ídolo. 
b. Como estes escolheram os seus próprios caminhos,        e a sua alma se deleita nas suas abominações, 
4   assim eu lhes escolherei o infortúnio        e farei vir sobre eles o que eles temem; 
porque clamei, e ninguém respondeu, falei, e não escutaram;        mas fizeram o que era mau perante mim e escolheram aquilo em que eu não tinha prazer.

INTRODUÇÃO
Em primeiro lugar, vamos estudar o nosso texto de acordo com o seu contexto histórico, seu lugar no livro de Isaías, sua estrutura literária, bem como o seu lugar na literatura bíblica (contexto literário).
Contexto Histórico. O livro de Isaías está dividido em 3 grandes blocos: o primeiro, dos capítulos 1 a 39, traz profecias no contexto do reino dividido do Sul, do Reino de Judá, nos dias de Uzias, Jotã, Acaz e Ezequias, reis de Judá (século VIII a.C.). Os profetas Amós e Oséias, no Reino de Israel (Norte) e o profeta Miquéias, no Reino de Judá (Sul), são contemporâneos de Isaías. Os capítulos 40 a 55 trazem profecias que apontam para o contexto do Exílio na Babilônia (Século VI a.C.). Os capítulos 56 a 66 trazem profecias que apontam para o período do pós exílio, ou seja, do período em que o templo e a cidade de Jerusalém estavam sendo reconstruídos (aproximadamente final do Século VI a.C. - a partir de cerca de 520 a.C.).
Estrutura Literária. Nosso texto apresenta a seguinte estrutura:
A  -  O Criador não descansa em edifícios feitos por homens (vv. 1-2a)
B  -  O Criador olha para os humildes que temem a Palavra de Deus (v. 2b)
A´  -  Aos que escolheram seus próprios maus caminhos e não o que agrada ao SENHOR, Deus escolherá o que é mau e desagradável (vv. 3-4).
Aqui, estamos estabelecendo uma relação entre os vv. 1-2a e vv. 3-4, em contraste com o v. 2b, em relação aos personagens do texto. Enquanto os vv. 1-2a e vv. 3-4 tratam daqueles que escolheram seus próprios caminhos, que não agradam ao SENHOR, caminhos que incluem a edificação de uma casa ao SENHOR como lugar do seu descanso e o sistema de sacrifícios deste mesmo templo, o v. 2.b trata daqueles que são humildes, oprimidos, mas que temem a Palavra de Deus - ou ainda, daquilo que agrada ao SENHOR. A estrutura aponta para um contraste claro entre o templo (juntamente com seus sacrifícios) e a Palavra de Deus enquanto caminho para o culto verdadeiro, o culto que agrada ao SENHOR.
Contexto Literário. Segundo J. Severino Croatto [1], a estrutura literária de Isaías 56-66 aponta para um centro, ou seja, o capítulo 61. Cada letra no início da linha apresenta o tema (ou eixo semântico) dos pares de textos e do texto central.

A    Is 56-58       (se liga a)     Is 65-66            ("críticas")
B    Is 59.1-14    (se liga a )    Is 63.7-64.11    ("oração/salvação")
C    Is 59.15-21  (se liga a)     Is 63.1-6           ("fragmentos apocalipticos")
D    Is 60            (se liga a)     Is 62                 ("Jerusalém e sua glória")
X                           Is 61                                  ("mensagem de libertação")

O nosso texto, Is 66.1-4, faz parte do eixo "A", "críticas", em que o profeta denuncia os pecados do povo, principalmente sobre a falta de fidelidade aos mandamentos justos e misericordiosos de Deus, as práticas idólatras, a opressão e a violência contra os fracos (56-58), bem como a denuncia contra a rebeldia do povo contra Deus e a falsa religião, alvo do juízo de Deus (65-66). Este é o contexto do nosso texto: crítica contra os pecados do povo, em específico, críticas contra a falsa religião!
Isaías 66.1-4 é citado algumas vezes no Novo Testamento: Mt 5.34-35 (v. 1); At 7.49-50 (vv. 1-2).

1) QUE CASA EDIFICAREIS PARA O MEU DESCANSO? (vv. 1-2a) - Eixo A.
Os judaítas que saíram da Babilônia agora estavam buscando edificar o templo e a cidade de Jerusalém. Neste contexto, a profecia de Isaías vem falar ao coração do povo de Deus.
"Assim diz o SENHOR: O céu é o meu trono, e a terra, o estrado dos meus pés; que casa me edificareis vós? E qual é o lugar do meu repouso? Porque a minha mão fez todas estas coisas, e todas vieram a existir, diz o SENHOR" (vv. 1-2a).
Lembra as palavras de 1Reis 8.27, na qual o rei Salomão ora ao SENHOR quando da consagração do templo de Jerusalém, dizendo:
"Mas, de fato, habitaria Deus na terra? Eis que os céus e até o céu dos céus não te podem conter, quanto menos esta casa que eu edifiquei".
O profeta denuncia a ideia equivocada de que o templo de Jerusalém é a morada do SENHOR. Deus não está preocupado com edifícios, mas com a vida. O que agrada ao SENHOR não é o edifício do templo, que fora construído por Salomão, destruído pelos Babilônios em 587 a.C. e reconstruído a partir de cerca de 520 a.C.
Nos livros de Ezequiel e de Daniel, o trono do SENHOR tem rodas, para demonstrar que a glória de Deus não ficou restrita ao território de Israel, ou a cidade de Jerusalém (destruída nos dias de Ezequiel) ou mesmo ao templo (também destruído nos dias de Ezequiel). O trono do SENHOR tem rodas para demonstrar que a sua glória continua com o seu povo, mesmo no exílio, mesmo na angústia e debaixo da opressão e da violência! Ora,
"Continuei olhando, até que foram postos uns tronos, e o Ancião de Dias se assentou; sua veste era branca como a neve, e os cabelos da cabeça, como a pura lã; o seu trono eram chamas de fogo, e suas rodas eram fogo ardente" (Daniel 7.9).
Nem mesmo o universo pode conter a Deus de forma plena. Não é Deus quem está em algum lugar no universo, mas é o universo que está na palma da mão de Deus! O Criador é maior que a sua criação! Mesmo o universo inteiro não pode contê-lo! Todas as coisas foram criadas por Ele, por meio dEle e para Ele!
Portanto, o primeiro eixo descarta a ideia de que o templo de Jerusalém seja a verdadeira habitação do SENHOR, onde Ele pode descansar. Em outras palavras, não é no templo de Jersalém que está o prazer do SENHOR, não é no edifício feito por mãos o lugar da sua habitação!

2) AOS QUE ESCOLHERAM SEUS PRÓPRIOS MAUS CAMINHOS E NÃO O QUE AGRADA AO SENHOR, DEUS ESCOLHERÁ O QUE É MAU E DESAGRADÁVEL (vv. 3-4) - Eixo A´.
Está presente no capítulo 66 o contraste entre os que temem ao SENHOR e os que odeiam os que temem ao SENHOR, como pode ser observado no v. 5:
"Ouvi a palavra do SENHOR, vós, os que a temeis: Vossos irmãos, que vos aborrecem e que para longe vos lançam por causa do vosso amor ao meu nome e que dizem: Mostre o SENHOR a sua glória, para que vejamos a vossa alegria, esses serão confundidos"
Os vv. 1-2a apresentam uma ideia errada acerca do SENHOR: que Ele habita no edifício do templo. Mas quem pensa assim? O v. 3 denuncia o vazio dos sacrifícios oferecidos no templo de Jerusalém, como expressões imundas e idolátricas. Em outras palavras, o templo de Jerusalém e seu sistema de sacrifícios não expressam o verdadeiro culto ao SENHOR, mas são um caminho de falsa segurança religiosa. Mas por que? O v. 3 explica: "estes escolheram os seus próprios caminhos, e a sua alma se deleita nas suas abominações". Os sacrifícios são tratados como idolatria abominável.
Vamos fazer uma pausa para refletir sobre os sacrifícios no Antigo Testamento. Ao mesmo tempo que estes sacrifícios são, por vezes, ordenados e valorizados (Levítico 23.37-38; Deuteronômio 12.1-31), outras vezes são descartados e denunciados como expressão de injustiça e idolatria (Jeremias 7.21-28). Mas por que? Por um lado, eles tem o seu valor, mas por outro são vazios. Uma afirmação não nega a outra, mas a complementa. Mas como? O Novo Testamento, em Hebreus 10.1-10, ensina o seguinte:
"1   Ora, visto que a lei tem sombra dos bens vindouros, não a imagem real das coisas, nunca jamais pode tornar perfeitos os ofertantes, com os mesmos sacrifícios que, ano após ano, perpetuamente, eles oferecem. 2   Doutra sorte, não teriam cessado de ser oferecidos, porquanto os que prestam culto, tendo sido purificados uma vez por todas, não mais teriam consciência de pecados? 3   Entretanto, nesses sacrifícios faz-se recordação de pecados todos os anos, 4   porque é impossível que o sangue de touros e de bodes remova pecados. 5   Por isso, ao entrar no mundo, diz: Sacrifício e oferta não quiseste; antes, um corpo me formaste; 6   não te deleitaste com holocaustos e ofertas pelo pecado. 7   Então, eu disse: Eis aqui estou (no rolo do livro está escrito a meu respeito), para fazer, ó Deus, a tua vontade. 8   Depois de dizer, como acima: Sacrifícios e ofertas não quiseste, nem holocaustos e oblações pelo pecado, nem com isto te deleitaste (coisas que se oferecem segundo a lei), 9   então, acrescentou: Eis aqui estou para fazer, ó Deus, a tua vontade. Remove o primeiro para estabelecer o segundo. 10   Nessa vontade é que temos sido santificados, mediante a oferta do corpo de Jesus Cristo, uma vez por todas".
Há um velho ditado que diz o seguinte: "o dedo aponta para a lua, mas ai daquele que olha para o dedo e não para a lua". Uma vez que o dedo está apontando para a lua, o objetivo é olhar para a lua, e não para o dedo! Do mesmo modo, Hebreus afirma que o templo de Jerusalém e o sistema sacrificial do templo eram como que um dedo apontando para Cristo. É por isso que, ao mesmo tempo que o sistema sacrifricial do Antigo Testamento é valorizado, enquanto "o dedo que aponta para uma realidade superior", este sistema é também denunciado como vazio, pois não é nele que a salvação é realizada! É por isso que Isaías relaciona o sistema sacrificial do templo e o próprio templo com a ideia de abominação e caminhos próprios (dos injustos). E aqueles que escolheram o que é mau, receberão o que é mau; quem escolheu o que aborrece ao SENHOR, receberá do SENHOR o que aborrece a si próprio!
O templo e seus sacrifícios não são o caminho de Deus e não agradam ao SENHOR. O prazer do SENHOR não está no templo e nos sacrifícios. Um culto que consiste simplesmente em lugares e rituais sagrados não é caminho para alegrar ao SENHOR, o Criador de todas as coisas. Então, qual é o Culto que agrada ao SENHOR? Qual é o verdadeiro culto? Uma primeira pista está ainda no início do v. 4:
"assim eu lhes escolherei o infortúnio e farei vir sobre eles o que eles temem; porque clamei, e ninguém respondeu, falei, e não escutaram". Ou seja, o que agrada ao SENHOR é algo que Ele diz, diz respeito ao seu clamor dirigido ao seu povo. Mas o que seria isso? É o que veremos a seguir:

3) O Criador olha para os humildes que temem a Palavra de Deus (v. 2b) - Eixo B.
O caminho que agrada ao SENHOR não é o templo ou os sacrifícios do templo. O caminho que agrada ao SENHOR é a Sua Palavra! (Veja Salmo 50; Isaias 1.10-20; Jeremias 7.21-28). Ora, "mas o homem para quem olharei é este: o aflito e abatido de espírito e que treme da minha palavra" (v. 2b).
Em outras palavras, o SENHOR não habita em edifícios feitos por mãos humanas, mas Ele está com o "aflito e abatido de espírito e que treme da minha palavra". A sua alegria não está na carne e no sangue dos sacrifícios, mas sim na fidelidade daqueles que ouvem e obedecem a Sua Palavra, como fica claro no v. 4: "clamei, e ninguém respondeu, falei, e não escutaram".
O SENHOR, através de Isaías, ensina ao povo que o culto verdadeiro não está em um lugar ou em ritos externos vazios de legitimidade própria, mas sim na vida daqueles que, apesar das angústisas, provações e opressões, se mantém fiéis a Palavra de Deus, ou seja, no caminho da justiça, da misericórdia e do perdão.
Este é o ensino de Jesus:
"Senhor, disse-lhe a mulher, vejo que tu és profeta. Nossos pais adoravam neste monte; vós, entretanto, dizeis que em Jerusalém é o lugar onde se deve adorar. Disse-lhe Jesus: Mulher, podes crer-me que a hora vem, quando nem neste monte, nem em Jerusalém adorareis o Pai. Vós adorais o que não conheceis; nós adoramos o que conhecemos, porque a salvação vem dos judeus. Mas vem a hora e já chegou, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque são estes que o Pai procura para seus adoradores. Deus é espírito; e importa que os seus adoradores o adorem em espírito e em verdade" (João 4.19-24).
Jesus também ensina o seguinte:
"Se me amais, guardareis os meus mandamentos" (João 14.15).
O local do culto verdadeiro não é um edifício feito por mãos, mas é a própria vida! O sacrifício a ser oferecico não é o sangue de touros ou de bodes, mas a própria vida submissa a vontade de Deus!
Jesus Cristo, o Filho de Deus, foi enviado pelo Pai ao mundo, não para condenar o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por Ele. Jesus foi o único ser humano que, tendo sido tentado, jamais pecou, e sem pecado morreu na cruz, assumindo sobre si a condenação dos nossos pecados. Mas ele venceu e ressuscitou ao terceiro dia, vencendo a morte, o pecado, o mundo e o diabo. Após a ressurreição, Jesus enviou o Espírito Santo aos nossos corações, o qual nos transforma, de glória em glória, para o culto que deve ser celebrado não num lugar específico, não um culto restrito a ritos externos, mas o culto verdadeiro, no Espírito, na vida! Adoramos a Deus uno e trino no Espírito, pela graça do Pai em Cristo Jesus.

CONCLUSÃO
O Culto que agrada ao SENHOR é a adoração em espírito e em verdade. É a expressão de um povo que ama ao SENHOR, que ama a Sua Palavra, e que busca sempre crescer na fidelidade a Palavra de Deus, pela graça de Deus.
Hoje há "igrejas" construindo réplicas do templo de Jerusalém, réplicas da arca da aliança, tocando seus sophares e mergulhando em rituais externos e caducos de sentido, de vida. Precisamos fazer a oração do Pai Nosso, e aprender com Nosso Senhor a orar: "Pai nosso, que estás nos céus, santificado seja o teu nome; venha o teu reino; faça-se a tua vontade, assim na terra como no céu..." (Mateus 6.9-10). Não precisamos do templo de Jerusalém, dos sacrifícios de animais ou da arca da aliança, pois Jesus Cristo, o Filho de Deus, veio ao mundo como a verdadeira arca da aliança, o verdadeiro tabernáculo de Deus entre os homens. Ao ressuscitar, envia sobre nós o Espírito Santo, de modo que o santuário de Deus entre os homens não são réplicas caducas de objetos sagrados, mas é o povo de Deus, homens e mulheres que se tornaram filhos e filhas de Deus em Cristo, discípulos de Jesus, nos quais Deus habita pelo seu Espírito. Ao vivermos guiados pela Palavra de Deus e orientados pelo Espírito Santo, numa vida de justiça, misericórdia e perdão, adoramos a Deus em espírito e em verdade. E viver assim, guiados pela Palavra e No Espírito, é possível apenas em Cristo. Jesus é o verdadeiro templo, o grande Sumo Sacerdote, o sacrifício único e suficiente para o perdão de todo pecado. NEle somos feitos povo de Deus no Espírito.
Que Deus nos abençoe e tenha misericórdia de nós, para a Sua glória!


BIBLIOGRAFIA
J. Severino CROATTO. Isaías - A palavra profética e sua releitura hermenêutica - vol. III: 56-66. Petrópolis: Vozes, 2002.
F. DAVIDSON (org.). O Novo Comentário da Bíblia - vol. II. São Paulo: Vida Nova, 1963.
L. Alonso SCHÖKEL, J. L. SICRE DIAZ. Profetas I. São Paulo: Paulus, 1988.

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