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quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Livres do Medo: a Certeza da Salvação


(Publicado na revista Vivendo a Fé 26 - "Perseverança dos Crentes", da Editora Pendão Real)

Texto básico: 1João 5.13-15
Texto central: “Eu escrevo essas coisas a vocês que creem no Filho de Deus, para que vocês saibam que têm a vida eterna” (1João 5.13 - NTLH).
Leituras bíblicas diárias:
Seg – João 1.12-14
Ter – João 3.16-18
Qua – João 10.27-28
Qui –  Romanos 8.12-17
Sex – Romanos 8.28-30
Sab – Efésios 1.13-14
Dom – 1João 4.17-19


INTRODUÇÃO
Um cristão pode ter a certeza da salvação? Um dia uma antiga colega de trabalho me disse o seguinte: “Eu acho que vocês protestantes são muito arrogantes e orgulhosos, porque vocês se consideram melhores do que os outros, pois acham que já são salvos!”. Assim como ela, tem muita gente que ainda não entendeu a certeza da salvação segundo ensina a Bíblia.

1.  O que é a “certeza da salvação”?
                Definimos “certeza da salvação” como a convicção de que a pessoa não esteja mais debaixo da ira de Deus (João 3.35-36). É a certeza de ter sido alvo da graça de Deus, mediante a fé em Cristo, por obra do Espírito Santo. Esta graça consiste no fato de, em Cristo, sermos perdoados dos nossos pecados, de termos sido selados com o Espírito Santo para a salvação, de sermos herdeiros de Deus e coerdeiros com Cristo, de tal modo que as promessas da Palavra de Deus, que são verdadeiras, já estão se cumprindo e continuarão se cumprindo em nós.

2. A CERTEZA DA SALVAÇÃO E O FUNDAMENTO DA SALVAÇÃO
            A Certeza da Salvação depende do fundamento da salvação. E o fundamento da salvação não é  a decisão, a capacidade ou a vontade humanas, mas é a pessoa e a obra salvadora do Senhor Jesus Cristo. Pela justificação somos livres da culpa do pecado. Pela santificação, do poder do pecado. Pela certeza da salvação, do medo da condenação! Para ilustrar esta certeza, gostaria de partir de uma parábola:
“Um navio se choca contra um iceberg em meio as águas geladas ao Atlântico norte e começa a afundar. Os náufragos estão perdidos, sem condições de se salvar, e se agarram no que podem, até que surge um barco que começa a atirar boias presas a cordas. Os náufragos que ainda estão vivos se agarram as boias com todas as suas forças, com muita vontade de viver. No entanto, apesar de toda vontade de viver e de toda a força que fizeram, eles não se salvaram, mas foram salvos, pois sua vontade e força seriam completamente inúteis sem alguém para salvá-los”.
A certeza da salvação está ligada ao fundamento da salvação, que é Cristo! Quando Jesus lança a boia e nós a agarramos, mesmo ainda na água sabemos que já estamos salvos, pois estamos sendo resgatados, assim como os outros já foram. É Deus quem opera em nós! É obra de Deus! A certeza da salvação não pode significar a celebração do orgulho humano, mas pelo contrário, é a celebração do amor, da graça e da misericórdia de Deus, de um lado, e a confissão da fraqueza, miséria e necessidade humana, de outro lado.

3) As testemunhas da “certeza da salvação”
            Aqueles que creem que Jesus Cristo é o Senhor, aqueles que se submetem ao seu ensino, exemplo e pessoa, buscarão fazer a vontade de Deus e, portanto, serão batizados e professarão a sua fé em Cristo e participarão da comunhão da Igreja de Cristo, inclusive da vida dos sacramentos. A estes, que Deus torna seus filhos e filhas em Cristo, Deus provê o que precisam para ter a certeza da própria salvação. Esta certeza está baseada em alguns testemunhos, como veremos a seguir.
a) A Palavra de Deus. A Bíblia afirma que o único fundamento da salvação é o próprio Deus. Foi Ele quem tomou a iniciativa da salvação. O Pai enviou o Seu Filho para nos salvar (João 3.16). O Filho se entregou por nós, por amor de nós e para a nossa salvação (Gálatas 2.19-21). O Espírito de Santo foi enviado pelo Filho para habitar em nós, sendo ele mesmo tanto o selo quanto o penhor da nossa salvação (2Co 1.21-22; Ef 1.13-14). Aqueles que creem em Cristo, que são perdoados pela graça de Deus, aqueles em quem habita o Espírito Santo, são, de fato, filhos e filhas de Deus. E esta graça, na qual somos chamados eficazmente, justificados pela graça de Deus mediante a fé em Cristo, santificados pelo Espírito Santo da promessa e pela Palavra de Deus, é uma realidade pela graça de Deus!  E a Bíblia deixa claro que quem crê no Filho de Deus deve ter a certeza da salvação (1João 5.13).
b) O Espírito Santo. O salvo vive no Espírito, no qual é selado para salvação. O Espírito Santo é o penhor, a garantia, da nossa salvação. Sendo assim, é este mesmo Espírito que testifica aos nossos corações que somos filhos de Deus. O Espírito Santo é testemunha da salvação e nos leva a certeza da salvação. Deus não tem compromisso com a falsa certeza da salvação por parte daqueles que não são salvos (Lucas 18.9-14), mas Ele mesmo produz a certeza da salvação na vida dos seus filhos (Romanos 8.16).
c) As Boas Obras. A nossa salvação não é conquistada por nós ou realizada por causa das nossas boas obras. No entanto, apesar de não serem a causa da salvação, elas são, necessariamente, sua consequência, pois o salvo é “criado em Cristo Jesus para as boas obras” (Ef 2.10). Algumas pessoas ímpias e insensatas fazem afirmações como a seguinte: “ora, se eu tenho a certeza da salvação, então eu tenho o direito de pecar a vontade!”. Grande engano! Os filhos de Deus vivem na graça de Deus no Espírito e o fruto do Espírito é contrário as obras da carne (Gálatas 5.16-26). O Espírito Santo e a Palavra de Deus nos santificam de tal maneira que seremos conduzidos a uma vida de beleza, de amor, de cruz, de boas obras, para a glória de Deus. Estas boas obras são testemunhas da graça de Deus e, portanto, testemunhas da certeza da salvação.
d) Os Sacramentos. Calvino afirma o seguinte sobre o sacramento: “é o sinal externo mediante o qual o Senhor nos sela à consciência as promessas de sua benevolência para conosco, a fim de suster-nos a fraqueza de nossa fé, e nós, de nossa parte, atestamos nossa piedade para com Ele, tanto diante d´Ele, dos anjos, quanto dos homens[1]. Especificamente sobre o batismo, Calvino afirma: “o batismo não é outra coisa que um sinal ou marca, com o qual confessamos diante dos homens nossa religião... estes não tem presente o principal do batismo, isto é, que devemos recebê-lo com a promessa de que todo o que crer e for batizado será salvo[2]. Os sacramentos são ordenados por Cristo nas Escrituras e neles Cristo se faz presente na vida do seu povo. Os sacramentos nos sustentam diante da nossa fraqueza, para que possamos ser fortalecidos na fé e nas promessas de Deus, inclusive acerca da salvação realizada em nós pelo nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.

4) Quatro posições possíveis em relação a “certeza da salvação”
                Há quatro grupos distintos em relação a certeza da salvação. São eles os seguintes:
- Não são salvos, mas acham que são;
- Não são salvos e sabem que não são;
- São salvos, mas acham que não são;
- São salvos e sabem que são.
                O primeiro grupo é formado por pessoas que estão enganadas em relação a salvação. Há muitos que não entendem o fundamento da salvação. Acham que a salvação é algo que nós mesmos alcançamos e realizamos, através das nossas obras de justiça, como se a salvação fosse uma obra meramente humana. A Bíblia traz alguns exemplos de pessoas enganadas em relação a própria salvação (veja, por exemplo, o fariseu em Lucas 18.9-14). Precisamos conhecer bem o fundamento da salvação e as testemunhas da salvação, para não nos enganarmos num assunto tão importante!
                O segundo grupo é formado pelas pessoas que tem consciência de que Deus é Santo e que elas mesmas são pecadoras, mas não conhecem o Evangelho da graça de Deus. Este grupo tem uma vantagem muito grande em relação ao primeiro: ao menos já entenderam a verdade de que não podemos alcançar a salvação através das nossas boas obras ou de nossa justiça própria (Romanos 3.9-20, 23).
                O terceiro grupo é formado por pessoas que sabem que as nossas boas obras e nossa justiça não trazem salvação, sabem que a salvação está apenas em Cristo, mas não creem que seja possível ter a certeza da salvação. Este tipo de doutrina gera uma ansiedade brutal, pois afirma que todo dia e durante todo o dia corremos o risco de ir para o inferno, caso venhamos a morrer num momento de fraqueza! Este tipo de doutrina gera muita ansiedade – o mal do século!  Há muitos “líderes” de “igrejas” hoje em dia que se aproveitam deste tipo de ansiedade para se aproveitar da boa fé das pessoas.
                O quarto grupo é formado por aqueles que sabem que, apesar de criados a imagem e semelhança de Deus, apesar de serem capazes de fazer boas obras, estas não podem salvá-los, pois “todos pecaram e carecem da glória de Deus” (Romanos 3.23). Mas eles sabem também que Deus, sendo misericordioso, amoroso e fiel, traz sobre nós salvação pela sua graça, mediante a fé em Cristo Jesus. A certeza da salvação não nos leva a entender que sejamos melhores que os outros, mas pelo contrário, nos leva a reconhecer que o próprio Deus é o único justo e justificador (Romanos 3.26). Não somos salvos por sermos bons, mas porque Deus é bom! A certeza da salvação depende da graça de Deus. Assim, a certeza da salvação, quando entendida corretamente, traz ao cristão segurança, não para continuar pecando, mas para viver uma nova vida em Cristo, no poder do Espírito Santo e na luz da Palavra de Deus. A Bíblia traz exemplos desta certeza da salvação (Lucas 19.1-10; Lucas 22.43; Filipenses 4.3; etc.).

CONCLUSÃO
                Há quem se engane em relação a própria salvação, mas o engano de uns não pode destruir a convicção bem fundamentada de outros. A certeza da salvação, na perspectiva bíblica, não é doutrina que produz orgulho, mas humildade, justiça, misericórdia e perdão. A certeza da salvação também nos livra do medo da ira de Deus – o que é fundamental em tempos de tantas fobias. É um convite para se aproximar de Deus não por interesse, mas por gratidão e amor, diante de tão grande salvação!







[1] Calvino apud Carlos Jeremias Klein. Os Sacramentos na Tradição Reformada. São Paulo: Fonte Editorial, 2005, p. 88.
[2] Calvino apud Carlos Jeremias Klein. Os Sacramentos na Tradição Reformada. São Paulo: Fonte Editorial, 2005, p. 143.

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