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sexta-feira, 22 de maio de 2015

Estruturas Literárias Surpreendentes (Gênesis)


A Bíblia é um livro surpreendente. Hoje eu gostaria de compartilhar com vocês algumas estruturas impressionantes no livro de Gênesis.
Numa primeira leitura, o texto parece ser meio caótico, sem muita organização. Mas à medida que o estudamos, nos extasiamos com a sua mensagem, com sua influência em tudo que nos cerca (literatura, filosofia, pintura, música, cinema...), bem como nas estruturas literárias. Vamos apresentar abaixo as estruturas fundamentais do livro do Gênesis (1). 

1) Da Criação aos Patriarcas (Gênesis 1.1-11.32)
As letras no início das linhas apontam para os temas paralelos nas letras correspondentes (ex: A - A'; B - B'; etc.). Esta é uma estrutura alternante, em 7 divisões binárias.

A  História da criação: primeiro início; bênção divina (1.1-2.3)
   B   Pecado de Adão: nudez; ver/cobrir nudez; maldição (2.4-3.24)
      C   Nenhum descendente ao jovem assassinado; Abel, filho justo (4.1-16)
         D   Descendentes de Caim, filho pecaminoso (4.17-26)
            E   Descendentes de Sete, filho escolhido: dez gerações de Adão a Noé (5.1-32)
               F Ruína: união ilícita (6.1-4)
                  G Breve introdução a Noé (6.5-8)
A'  História do dilúvio: reversão da criação; novo início; bênção divina (6.9-9-19)
   B'  Pecado de Noé: nudez, ver/cobrir nudez; maldição (9.20-29)
      C'  Descendentes do mais jovem; Jafé, filho justo (10.1-5)
         D'  Descendentes Cam, filho pecaminoso (10.6-20)
            E'  Descendentes de Sem, filho escolhido: dez gerações de Noé a Terá (10.21-32)
               F' Ruína: união rebelde - Torre de Babel (11.1-9)
                  G'  Breve introdução de Abraão, por meio de quem Deus abençoará a humanidade (11.27-32)

Compare as letras (A - A'; B - B'; etc.). É surpreendente!


2) Ciclo de Abraão (Gênesis 11.27-22.24)
Esta é uma estrutura concêntrica, ou seja, as extremidades se encontram, até chegar ao centro do texto (seu clímax). Estrutura em 6 divisões binárias.

A   Genealogia de Terá (11.27-32)
   B   Promessa de um filho e começo da odisséia espiritual de Abração (12.1-9)
      C   Abraão mente acerca de Sara; o Senhor a protege no palácio estrangeiro (12.10-20)
         D   Ló se estabelece em Sodoma (13.1-18)
            E   Abraão intercede por Sodoma e por Ló com força militar (14.1-24)
               F   Aliança com Abraão; anúncio de Ismael (15.1-16.16)
               F'  Aliança com Abraão; anúncio de Isaque (17.1-18.15)
            E'   Abraão intercede por Sodoma e por Ló em oração (18.16-33)
         D'  Ló foge de Sodoma destruída e se estabelece em Moabe (19.1-38)
      C'  Abraão mente acerca de Sara; Deus a protege em palácio estrangeiro (20.1-18)
   B'  Nascimento do filho e clímax da odisséia espiritual de Abraão (21.1-22.19)
A'  Genealogia de Naor (22.20-24)


3) Ciclo de Jacó (Gênesis 25.19-35.22)
Outra estrutura concêntrica. Estrutura em 6 divisões binárias.

A   Busca de oráculo; luta no parto; nasce Jacó (25.19-34)
   B   Interlúdio: Rebeca em palácio estrangeiro; pacto com estrangeiros (26.1-35)
      C   Jacó teme Esaú e foge (27.1-28-9)
         D   Mensageiros (28.10-22)
            E   Chegada em Harã (29.1-30)
               F   Esposas de Jacó são férteis (29.31-30.24)
               F'  Rebanhos de Jacó são férteis (30.25-43)
            E'  Fuga de Harã (31.1-55)
         D'  Mensageiros (32.1-32)
      C'  Jacó regressa e teme Esaú (33.1-20)
   B'  Interlúdio: Diná em palácio estrangeiro; pacto com estrangeiros (34.1-31)
A'  Oráculo cumprido; luta em parto; Jacó se torna Israel (35.1-22)


4) Ciclo de José (Gênesis 37.2-50.26)
Outra estrutura concêntrica. Estrutura em 7 divisões binárias.

A   Introdução: início da história de José (37.2-11)
   B   Jacó pranteia a "morte" de José (37.12-36)
      C   Interlúdio: Judá designado líder (38.1-30)
         D   Servidão de José no Egito (39.1-23)
            E   José, salvador do Egito por meio de desaprovação na corte de Faraó (40.1-41.57)
               F   Viagem dos irmãos ao Egito (42.1-43.34)
                  G   Irmãos de José passam no teste de amor por ele (44.1-34)
                  G'  José renuncia seu poder sobre os irmãos (45.1-28)
               F'  Migração da família para o Egito (46.1-27)
            E'  José, salvador da família por meio do favor da corte de Faraó (46.28-47.12)
         D'  Servidão dos egípcios a José (47.13-31)
      C'  Interlúdio: Judá abençoado como líder (48.1-49.28)
   B'  José pranteia a morte de Jacó (49.28-50.14)
A'  Conclusão: fim da história de José (50.15-26)


Bruce Waltke afirma que um dos temas centrais em Gênesis é o da "semente".
Ao criar o ser humano, Deus abençoa "a sua semente":
"E Deus os abençoou e lhes disse: Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra e sujeitai-a; dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus e sobre todo animal que rasteja pela terra" (Gn 1.28).
No jardim, o Senhor, se dirigindo à serpente, afirma:
"Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e o seu descendente. Este te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar" (Gênesis 3.15).
Após o pecado, Gênesis começa a dar destaque aos "filhos de Deus", em contraste com os "filhos dos homens". Neste sentido, o destaque está para Adão-Sete-Noé, por um lado, e para Noé-Sem-Héber-Terá-Abraão-Isaque-Jacó-os 12 filhos de Jacó.
Não é por acaso que o primeiro ciclo (1.1-11.32) culmine nas figuras de Noé e Abraão, duas "sementes" por meio de quem Deus abençoará a humanidade.
O segundo ciclo (11.27-22.24) tem como centro a aliança e o anúncio do nascimento dos filhos de Abraão, com destaque para Isaque, o filho/semente da promessa.
O terceiro ciclo (25.19-35.22) está centralizado na afirmação da "fertilidade" tanto das esposas quanto do rebanho de Jacó.
O quarto ciclo (37.2-50.26) está centralizado nos 12 filhos de Jacó, ou ainda, no relacionamento de amor que serve, capaz de trazer reconciliação. A narrativa bíblica relaciona os 12 filhos de Jacó às 12 tribos de Israel, povo chamado para ser um "reino de sacerdotes" (Ex 19.1-6).
O tema da semente aponta para Cristo. Por um lado, a Igreja antiga leu Gn 3.15 como uma promessa cumprida em Jesus Cristo, que pisou a cabeça da serpente. Por outro lado, do mesmo modo que Deus salva Noé e sua família através do madeiro da arca, Cristo traz salvação a partir do madeiro da cruz. Além disso, a promessa de Deus para Abraão, de bênção a todas as nações/famílias da terra (Gn 12.1-3; 18.18) é cumprida em Jesus Cristo, "filho de Davi, filho de Abraão" (Mt 1.1; Gl 3.16). Por meio de Cristo, somos feitos filhos de Deus (Jo 1.12; Gl 3.26).

Gênesis é ou não um livro extraordinário? E pensar que ele foi escrito há milhares de anos, num contexto em que não havia computadores (que poderiam facilitar a sua edição), e as pessoas não dispunham de bibliotecas e métodos literários como nós temos hoje! Qual é o gênio literário que poderia escrever uma obra como esta? Mas o Gênesis faz parte de um texto maior, a Bíblia, e está inserido numa estrutura ainda maior. O Gênesis é fruto de uma grande inspiração!


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Fonte das Estruturas: Bruce K. WALTKE. Comentário do Antigo Testamento: Gênesis. São Paulo: Cultura Cristã, 2010, pp. 18-20.

sexta-feira, 8 de maio de 2015

Ela


Tive um sonho maravilhoso esta noite... Você estava nele!
Ouvi uma música linda... Ela dizia o seu nome!
Fui conversar com meus amigos... Eles me falaram de você!
Não resisti, fui à uma lanchonete e comprei você!
Eu te amo, barra de chocolate!

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Ourizona, Paraná, 1990.

O Confuso


Estou confuso,
Pois não sei se estou confuso.
Mas como não saber se estou confuso,
Se estou confuso?

Se estou confuso,
Sei que estou confuso,
E, se sei que estou confuso,
Não estou mais confuso!
Mas, como não estar confuso,
Se eu sei que estou confuso?



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Marcio Marques
Ourizona, Paraná, 1991.

sábado, 2 de maio de 2015

A Igreja guarda o sábado ou o domingo? (síntese)


A Igreja Antiga, nos séculos I, II, III e IV, observava o sábado ou o domingo? Como muita gente tem preguiça de ler todo o post anterior e fica pedindo a base bíblica, estou postando hoje a base bíblica abreviada. O link do post completo está no final deste texto.

Você é judeu? Pois o primeiro gentio (não-judeu) crente em Atos dos Apóstolos é Cornélio que, juntamente com alguns familiares e amigos, recebem o Espírito Santo enquanto ouvem a pregação de Pedro (Atos 10). Alguns judeus cristãos "dispersos por causa da tribulação que sobreveio a Estêvão" chegaram até Antioquia, ondem começaram a evangelizar gentios, que se converteram a Cristo (Atos 11). Posteriormente, alguns judeus cristãos ligados aos fariseus passaram a afirmar que os gentios que se converteram a Cristo deveriam guardar a lei de Moisés: "Insurgiram-se, entretanto, alguns da seita dos fariseus que haviam crido, dizendo: É necessário circuncidá-los e determinar-lhes que observem a lei de Moisés"(Atos 15.5). Os Apóstolos e Presbíteros se reuniram em conselho e decidiram o seguinte: Não! Os cristãos não precisam guardar a lei de Moisés! Confira:
"Pois pareceu bem ao Espírito Santo e a nós não vos impor maior encargo além destas coisas essenciais: que vos abstenhais das coisas sacrificadas a ídolos, bem como do sangue, da carne de animais sufocados e das relações sexuais ilícitas; destas coisas fareis bem se vos guardardes. Saúde" (Atos 15.28-29).
Entre Atos 15.30 e Atos 18.6, o sábado é citado 3 vezes, não como prática cristã ou mandamento, mas como referência gratuita, uma vez que Paulo estava evangelizando judeus nas sinagogas, e os judeus iam às sinagogas no sábado; logo, quem guardava o sábado não era Paulo, mas os judeus que ele queria evangelizar na sinagoga (At 16.13; 17.2; 18.4). Destas 3 passagens, Atos 18.4 é a última vez que o sábado é citado em Atos, e você sabe por que? Porquê Paulo deixa de procurar os judeus e, a partir de então procurará apenas os gentios (Atos 18.1-6). Quando Paulo deixa de evangelizar judeus, ele deixa de ir na sinagoga aos sábados! Além disso, entre Atos 18.7 até o final do Apocalipse o sábado é citado apenas uma vez, em Colossenses 2.16-17, que afirma o seguinte: "Portanto, que ninguém faça para vocês leis sobre o que devem comer ou beber, ou sobre os dias santos, e a Festa da Lua Nova, e o sábado. Tudo isso é apenas uma sombra daquilo que virá; a realidade é Cristo". Ou seja, de Romanos a Apocalipse, o único texto bíblico que fala do sábado afirma que os cristãos não devem ser jugados por não guardar o sábado (apenas uma sombra que aponta para Cristo).

Você é judeu? Pois Paulo, que era judeu, não estava debaixo dos mandamentos da lei de Moisés, mas debaixo apenas da graça de Deus em Cristo (Romanos 6.14-15). Veja o testemunho de Paulo a respeito:

"Porque o pecado não terá domínio sobre vós; pois não estais debaixo da lei, e sim da graça. E daí? Havemos de pecar porque não estamos debaixo da lei, e sim da graça? De modo nenhum!" (Rm 6.14-15),
"Procedi, para com os judeus, como judeu, a fim de ganhar os judeus; para os que vivem sob o regime da lei, como se eu mesmo assim vivesse, para ganhar os que vivem debaixo da lei, embora não esteja eu debaixo da lei. Aos sem lei, como se eu mesmo o fosse, não estando sem lei para com Deus, mas debaixo da lei de Cristo, para ganhar os que vivem fora do regime da lei." (1Co 9.20-21).

Quem está debaixo da lei está debaixo de maldição, pois está obrigado a guardar toda a lei sem falha alguma:
"Todos quantos, pois, são das obras da lei estão debaixo de maldição; porque está escrito: Maldito todo aquele que não permanece em todas as coisas escritas no Livro da lei, para praticá-las" (Gl 3.10).

Agora, se por um lado, o único verso que fala do sábado entre Romanos e Apocalipse fala contra o sábado (Cl 2.16-17), o Novo Testamento testemunha que os cristãos observavam o domingo não como dia de descanso, mas como dia especial de celebração do culto e da Ceia do Senhor:

Evangelhos e Atos
- Lc 24.13-35 (Os discípulos no caminho de Emaús). Jesus ressuscita num domingo, e "naquele mesmo dia" se encontra com dois discípulos, lhes anuncia o Evangelho e celebra com eles a Ceia do Senhor. A partir de então, a celebração da Ceia do Senhor passa a ser uma prática dominical.
- Jo 20.19-29 (Relatos do encontro do Ressuscitado com seus discípulos). Jesus ressuscita em um domingo e aparece aos seus discípulos no domingo da ressurreição e ao oitavo dia (Jo 20.26), ou seja, no próximo domingo! Três aparições em oito dias, e todas no domingo.
- At 2.1-4. Os discípulos reunidos receberam o dom do Espírito "ao cumprir-se o dia de Pentecoste", ou seja, após o 50º dia depois da Páscoa, ou seja, um domingo - inferência provável segundo Allmen (Allmen:1968, p. 265).
- At 20.7-12. Testemunho da prática da Igreja primitiva em celebrar a Ceia do Senhor no domingo, o "primeiro dia da semana".
Epístolas
- 1Co 16.1-4. Quando Paulo fala das normas que deu para as igrejas da Galácia sobre a coleta para a Igreja de Jerusalém, e que agora dá as mesmas normas para as igrejas em Corinto, o apóstolo afirma que estas deveriam ser feitas "no primeiro dia da semana", por uma razão óbvia: era o dia em que a Igreja se reunia para o culto a Deus e a celebração da Ceia do Senhor. Caso contrário, não faria sentido estabelecer o domingo como dia da coleta, caso os cristãos não estivessem reunidos!

Se não bastasse, a literatura cristã dos séculos I, II, III e IV testemunham que, desde o período em que o Novo Testamento estava sendo escrito, os cristãos, inclusive judeus (a exemplo de Paulo) observavam o domingo como dia especial de culto de celebração da Ceia do Senhor, e não o sábado.
Para ler o texto completo, clique no link abaixo:

http://marcio-marques.blogspot.com.br/2014/11/a-igreja-antiga-sabado-ou-o-domingo.html

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