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sábado, 30 de agosto de 2014

Tiradas da Letícia VIII - o toque especial de beijinho

A Letícia não gosta muito de beijo e de abraço. Para dar um abraço, ela precisa estar com muitas saudades. O beijo, do mesmo modo, é bem rápido e sequinho. Receber beijo, então... não gosta muito. Mas ela é diferente com o maninho Miguel.
Hoje fui acordá-los, para passear. O Miguel levantou correndo. Já a Letícia ficou na cama. Então, ela disse:
- "Miguel, preciso de um toque especial de beijinho para acordar...".
O Miguel, seu oposto, deu um monte de beijos. Então, ela pediu um toque especial de abracinho...
Ela não é assim nem com o papai e nem com a mamãe. O Miguel deve despertar algum instinto de cuidado, já que ela tem o dobro da idade dele.

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Tiradas do Miguel I - A obediência

Estávamos no aeroporto. Dei um beijo na Cris e na Letícia. Então, dei um beijo no Miguel e disse prá ele:
- "Miguel, o papai vai viajar, e você será o homenzinho da casa. Cuida das meninas". Ele ficou todo cheio.
Quando eu voltei de viagem, a Cris me disse o seguinte:
- "Depois que você saiu, no dia da viagem, o Miguel, no carro, disse que eu e a Letícia deveríamos OBEDECÊ-LO, porque ele era o homenzinho da casa!".

A Cris, obviamente, não deixou que ele mandasse. Mas é engraçado. 
A reação do menino seria coisa do tal cromossomo Y? Ou sugestão paterna?

Tiradas da Letícia VII - O Mundo é uma Prisão?

Estávamos no carro. De repente, não mais que de repente, uma dúvida filosófico-teológico-infantil:
- "Este mundo é uma prisão?", pergunta a Letícia.
- "Por que você pergunta?", procurando entender o que ela queria dizer.
- "Porque se a gente não consegue sair deste mundo e ir para outro, este mundo parece uma prisão!", filosofa a precoce inquisidora.

Eu pensei: - "Sim, pois ´este mundo´ é uma expressão própria da apocaliptica para indicar uma determinada cosmovisão, segundo a qual a sociedade humana está dominada pela alienação e pela violência, ou seja, pelo mal, o qual será superado por um novo eon, no qual a justiça, a paz e a felicidade triunfarão sobre o mal presente, em novos céus e nova terra!". Mas soou muito complicado. Então eu disse:
- "É, Letícia. Para muita gente que sofre, este mundo é uma prisão. Um dia Jesus, que já venceu o mal pela sua ressurreição, nos levará para outro mundo, melhor do que este".

Ela sorriu.

sábado, 9 de agosto de 2014

A Arca da Aliança ontem e hoje


Hoje em dia, está na moda criar réplicas da Arca da Aliança. Por isso, eu gostaria de refletir com você sobre o tema da Arca da Aliança na Bíblia (seu lugar na Antiga e na Nova Aliança) e seu lugar na Igreja dos nossos dias.

1. A Arca da Aliança e a Antiga Aliança
A Arca da Aliança está descrita no capítulo 25 do livro do Êxodo. Era uma arca de madeira de acácia, coberta de ouro por dentro e por fora. Nos cantos da arca havia quatro argolas, nas quais duas varas eram utilizadas para transportá-la. Sobre a arca estava o propiciatório, uma peça toda de ouro, com dois querubins de ouro sobre ela. "Os querubins estenderão as asas por cima, cobrindo com elas o propiciatório; estarão eles de faces voltadas uma para a outra, olhando para o propiciatório" (Ex 25.20). Dentro da Arca, estavam as tábuas da Lei, que o SENHOR entregara a Moisés (Ex 25.21; 40.20; Dt 10.1-5). Segundo Hb 9.4, havia também uma urna, com um pouco do maná e com a vara de Arão, que floresceu.
A Arca da Aliança ficava na parte mais interior do Tabernáculo, o Santo dos Santos, local da presença de Deus. Portanto, ela representava a própria presença do SENHOR.
Quando os sacrifícios expiatórios eram feitos, o sangue era levado pelo sumo-sacerdote ao Santos dos Santos, onde era aspergido sobre o propiciatório (parte superior da arca). Portanto, a arca representava o perdão do SENHOR.
Quando em guerra, Israel muitas vezes levava consigo a Arca da Aliança, pois ela representava o poder de Deus, que luta em favor do seu povo.
Moisés morreu nas campinas de Moabe, antes de entrar na terra de Canaã. Josué, conduziu o povo a atravessar o rio Jordão a pé enxuto, a medida que os levitas que carregavam a Arca pararam no meio do rio, até que todos passassem. Quando Davi foi coroado rei, conquistou a cidade de Jerusalém e levou a Arca da Aliança para lá. Salomão edificou um templo, no qual introduziu a Arca da Aliança do Santo dos Santos (1Rs 8). As últimas notícias que temos desta Arca da Aliança estão registradas no livro do profeta Jeremias. O profeta, curiosamente, afirma o seguinte:
"Sucederá que, quando vos multiplicardes e vos tornardes fecundos na terra, então, diz o SENHOR, nunca mais se exclamará: A arca da Aliança do SENHOR! Ela não lhes virá à mente, não se lembrarão dela nem dela sentirão falta; e não se fará outra"(Jr 3.16 - grifo acrescentado).
De fato, depois que Nabucodonosor destruiu Jerusalém, não houve mais referência àquela Arca da Aliança na Bíblia. Apenas o livro Apocalipse fala da Arca da Aliança, mas do santuário celeste e não do terrestre (Ap 11.19). O templo de Jerusalém, reconstruído a partir do período persa, não conheceu mais a Arca da Aliança, inclusive nos dias do Novo Testamento.


2. A Arca da Aliança e a Nova Aliança em Cristo
No Novo Testamento não temos necessidade de uma Arca da Aliança, pois a Shekhinah (presença gloriosa de Deus) é Jesus Cristo. Jesus é o Emanuel ("Deus conosco" - Mt 1.23). Nas palavras do quarto Evangelho, Jesus Cristo é o Verbo que "se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a sua glória, glória como do unigênito do Pai" (Jo 1.14). Nos dias da sua carne entre nós, Jesus Cristo, o Emanuel, era a própria shekhinah.
O Evangelho segundo João narra o seguinte: "Perguntaram-lhe, pois, os judeus: Que sinal nos mostras, para fazeres estas coisas? Jesus lhes respondeu: Destruí este santuário, e em três dias o reconstruirei. Replicaram os judeus: Em quarenta e seis anos foi edificado este santuário, e tu, em três dias, o levantarás? Ele, porém, se referia ao santuário do seu corpo" (Jo 2.18-21), deixando claro que, na Nova Aliança, Jesus mesmo é tanto a Arca da Aliança quanto o próprio templo!
Quando Jesus morreu na cruz pelos nossos pecados e ressuscitou para a nossa salvação, Ele enviou aos nossos corações o seu Espírito, o Espírito da Nova Aliança. Por isso o Novo Testamento afirma que "nós somos santuário do Deus vivente" (2Co 6.16). O Corpo de Cristo é habitação do Espírito Santo; logo, cristãos não tem necessidade de uma Arca da Aliança, pois o Corpo de Cristo é a própria Arca da Aliança!

3. A Arca da Aliança e a Igreja Evangélica Brasileira
Nos últimos anos, temos visto muita gente fazendo réplica da Arca da Aliança, usando chofares, água do rio Jordão, etc. etc. etc. Cristãos devem tomar cuidado com a utilização religiosa destas coisas, para não cair na superstição ou na idolatria. Conforme o testemunho do Antigo e do Novo Testamentos, Moisés construiu uma serpente de bronze, para que os que fossem picados pelas "serpentes abrasadoras" pudessem salvar a própria vida, olhando para a de bronze (Nm 21.4-9, Jo 3.14). No entanto, o rei Ezequias destruiu aquela serpente, pois com o tempo passou a ser utilizada como objeto de culto: "e [Ezequias] fez em pedaços a serpente de bronze que Moisés fizera, porque até àquele dia os filhos de Israel lhe queimavam incenso e lhe chamavam Neustã" (2Rs 18.4).
Cristãos não precisam de réplicas da Arca da Aliança, tocar shofares, usar água do rio Jordão, reconstruir o templo de Jerusalém... Tem muito falso profeta hoje em dia tentando conduzir o povo para a idolatria e a superstição! O Antigo Templo já foi destruído no ano 70 d.C. pelos romanos, e o novo já foi levantado! No Evangelho segundo João, enquanto Jesus purificava o templo de Jerusalém (Jo 2.13-22), perguntaram com que autoridade ele fazia aquelas coisas. Jesus, então, responde: "Destruí este santuário, e em três dias o reconstruirei" (Jo 2.19) - deixando claro qual é o verdadeiro santuário!
O verdadeiro santuário é o Corpo de Cristo, ou seja, a sua Igreja.
Construir réplicas da Arca da Aliança e do Templo de Jerusalém é um insulto à Palavra de Deus!

Não precisamos mais do templo de Jerusalém, da Arca da Aliança, de chofares, de água do rio Jordão, etc. etc. etc. Precisamos da graça de Deus em Cristo, conforme a Palavra de Deus (e não da manipulação de espertalhões).

(Imagem do filme "Indiana Jones e os Caçadores da Arca Perdida").

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

O diabo colaborou com a construção do "Templo de Salomão" da IURD!

(Informação Prévia: a IURD retirou o vídeo abaixo do You Tube, por motivos óbvios. Mas vamos manter o link, bem como o texto, até porque a maior parte do "diálogo" do vídeo foi transcrito abaixo).

Recentemente, foi inaugurado o "Templo de Salomão" da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD). Uma construção tão importante que até mesmo o diabo colaborou com ela, incentivando a todos a contribuir!!! Pelo menos conforme o vídeo gravado pela própria IURD, em um dos seus templos (vídeo da IURD TV):


Interessante que tanto Jesus quanto os apóstolos não aceitavam testemunho do diabo, muito menos incentivo para arrecadação de ofertas!!! Jesus e os apóstolos ordenavam que os espíritos imundos se calassem, mesmo quando o que eles diziam não era falsidade (Mc 1.23-25; At 16.16-18).

Transcrevemos uma parte do "diálogo" (ou seria um "diábolo"?) do demônio com o bispo:
(bispo): "E as pessoas que ajudarem, doarem para a construção do templo? A pessoa vai doar casa, carro, dinheiro, vai doar o salário, o dinheiro guardado, vai pegar o que ela tem no banco, vai vender as roupas, vai vender o que ela tem para doação do templo. O que vai acontecer?"
("diabo"): "Eu vou ter que sair, desgraça!"
(bispo): "O que vai acontecer com a pessoa que doar o que ela tem pro templo?"
("diabo"): "Vai mudar a vida por completo!"
(bispo): "Vai o que?"
("diabo"): "Vai mudar a vida por completo! E a promessa que o Edir prometeu àquele desgraçado vai se cumprir".

Ouça o que diz a Palavra de Deus:
"Ora, o Espírito afirma expressamente que, nos últimos tempos, alguns apostatarão da fé, por obedecerem a espíritos enganadores e a ensinos de demônios, pela hipocrisia dos que falam mentiras e que têm cauterizada a própria consciência" (1Tm 4.1-2).

Portanto, não é boa opção dar ouvidos a um espírito enganador, seja ele de um "possesso" ou de um malandro. A verdade continua sendo verdade, mesmo na boca de um mentiroso. No entanto, você não precisa do mentiroso para encontrar a verdade. Ore, medite na Palavra de Deus, e não se deixe enganar por pessoas sem escrúpulos.
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o vídeo acima foi indicação do meu amigo Caiado.

Vivendo para a Glória de Deus e o bem do próximo: o cristão e a usura em Calvino

Texto publicado na Vivendo a Fé 16 - "Calvino para os dias de hoje", da Editora Pendão Real.
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Texto central:  Ex 22.25-27

Leituras bíblicas diárias:
Seg – Lv 25.35-38
Ter – Dt 23.19-20
Qua – Sl 15.1-5
Qui – Jr 15.10-21
Sex –  Ez 18.5-9
Sáb – Mt 25.14-30
Dom – Lc 6.27-36


INTRODUÇÃO

         Você já recebeu juros? Já pagou? Então vai se interessar pela influência de Calvino em relação à usura. Mas o que é usura? É a cobrança de juro. Usurário é aquele que empresta para receber juro.
         Nesta lição vamos refletir sobre a teologia de Calvino sobre a usura, que teve grande impacto sobre a história e que, ainda hoje, tem muito a contribuir sobre este tema, importante a todos nós. Em primeiro lugar, faremos uma breve reflexão sobre a usura na Bíblia. Em segundo lugar, sobre a usura na Igreja Antiga e Medieval. Finalmente, sobre as contribuições de Calvino sobre o tema.



1. A USURA NA BÍBLIA

         A cobrança de juros, hipotecas e penhores  é conhecida já no Antigo Testamento. A Bíblia apresenta vários textos acerca do assunto (Ex 22.25-27; Lv 25.35-38; Dt 23.19-20; Sl 15.1-5; Ez 18.5-9; Mt 6.9-15; ). A prática de empréstimos de bens ou de dinheiro mediante cobrança de juros era comum no Antigo Oriente, e fonte de muitos abusos (SICRE, 1990, p. 70). Por isso só pode habitar o tabernáculo do Senhor “o que não empresta o seu dinheiro com usura, nem aceita suborno contra o inocente” (Sl 15.5), pois “cobrar juros em um empréstimo era estritamente proibido (...) porque isso era visto como uma extorsão”( BROWN, 2007, p. 1040.) contra o pobre e o necessitado. O fundamental na oposição bíblica à usura está na defesa do pobre e necessitado, na defesa da vida e da solidariedade.

“Para refletir”.
* Você conhece alguém que contraiu empréstimo por motivo de necessidade e foi explorado pela cobrança de altas taxas de juros?


2. A USURA NA IGREJA ANTIGA E MEDIEVAL

         A cobrança de juros foi rejeitada tanto por antigos filósofos quanto por teólogos da Igreja Antiga  e Medieval. Entre eles estão Aristóteles (filósofo), Ambrósio, Jerônimo e Agostinho (pais ocidentais), Atanásio, Basílio o Grande, Gregório de Nissa (pais orientais) e Pedro Lombardo e Tomás de Aquino (teólogos medievais).
         O historiador Jacques Le Goff afirma que, já na Idade Média, há uma distinção entre usura e juro: “usura e juro não são sinônimos, nem usura e lucro: a usura intervém onde não há produção ou transformação material de bens concretos”( LE GOFF, 1986, p. 18). No entanto, o empréstimo destinado à produção de mercadorias continuaria, nesse caso, sendo considerado usura, pois o que está em jogo não é o que se faz com o valor emprestado, mas o juro decorrente do empréstimo.
         O usurário era considerado alguém que rouba a Deus, pois ganha dinheiro ‘vendendo’ o tempo, que a Deus pertence, e é ladrão porque rouba os cristãos, a quem deveria estabelecer vínculos de fraternal solidariedade. Além disso, quebra o mandamento divino do trabalho conquistado com o suor do rosto (Gn 3.17-19). Le Goff defende inclusive a tese de que o purgatório foi criado na Idade Média diante de um dilema medieval: por um lado, a usura era proibida pela Bíblia, pela Tradição e pela própria cultura medieval, mas por outro lado, em razão do contexto sócio-político-econômico, com o desenvolvimento de uma economia de mercado, a sociedade precisava cada vez mais do usurário. Para continuar condenando a usura, mas para salvar o usurário do inferno, e assim a sua própria atividade pecadora, a Igreja Medieval cria o purgatório, que será inclusive um meio de despojar o usurário dos seus bens. Conforme afirma Le Goff, “a única probabilidade de salvação do usurário, já que todo o seu lucro é mal adquirido, é a restituição integral do que ganhou”( LE GOFF, 1986, p. 43). Para o historiador, o criador do capitalismo não é Calvino, mas é o usurário:
“Os iniciadores do capitalismo são os usurários, mercadores do futuro, mercadores do tempo que, desde o século XV, Leon Battista Alberti definirá como [mercadores] do dinheiro. Esses homens são cristãos. Aquilo que os retém no limiar do capitalismo (...) é o medo, o medo angustiante do Inferno. (...). A esperança de escapar ao Inferno, graças ao Purgatório, permite ao usurário fazer avançar a economia e a sociedade do século XIII em direção ao capitalismo”( LE GOFF, 1986, p. 90).

         Assim, a Igreja Antiga, Medieval (ocidental) e Bizantina (oriental) condenava a usura.  O próprio reformador Martinho Lutero rejeitava a cobrança de juros, fazendo coro aos teólogos da Igreja Antiga e Medieval.

“Para refletir”.
* A disciplina eclesiástica geralmente é aplicada em casos de pecados sexuais. O mesmo acontece se um membro da Igreja ou mesmo um ministro ganha dinheiro por meio de agiotagem, cobrando taxas de juros abusivas de pessoas necessitadas? Qual a sua opinião a respeito?



3. CALVINO E A USURA

         O contexto econômico de Calvino não é o de uma economia agrária, típica da Idade Antiga e Medieval, mas sim de uma economia de mercado. A economia de mercado se desenvolveu na Europa desde meados dos séculos XII e XIII e foi nutrida pelas seguintes forças, anteriores ou contemporâneas à Calvino: o mercador itinerante (incluindo os usurários), o processo de urbanização, as cruzadas, o surgimento dos Estados nacionais e a descoberta das Américas.
         Calvino sabia que novas perguntas exigem novas respostas. Por isso, apesar da elevada consideração pela doutrina dos Pais da Igreja e dos Concílios Ecumênicos da Igreja Antiga, Calvino busca compreender a usura a partir das Escrituras à luz da nova realidade sócio-político-econômica, e dá uma resposta diferente da que fora dada até então. Calvino discerne a razão pela qual a Bíblia se manifesta contrária à usura: a exploração do semelhante. Calvino entende que a proibição da usura na Bíblia visa a proteção do necessitado. Conforme afirma André Biéler, Calvino “verifica que, ao falar do juro ou da usura, a Bíblia não visa ao fenômeno relativamente recente e muito mais difundido do empréstimo de produção. Nesse caso, não se trata de socorrer alguém e, portanto, de abusar da miséria alheia exigindo a compensação em juros pelo empréstimo feito. Trata-se, antes, de emprestar certa soma a fim de constituir um capital de trabalho”( BIÉLER, 2009, p. 54). Assim Calvino declara que o dinheiro, assim como um bem imóvel ou outra mercadoria qualquer, apresenta uma “natureza produtiva”, ou seja, pode gerar lucro.
         Para que se perceba a grandeza da contribuição de Calvino em relação à usura, é necessário entender essa contribuição à luz dos limites que impõe à própria usura e também à luz de outros temas de seu pensamento e prática social em Genebra.
         Um dos pontos mais importantes do pensamento econômico do reformador é a sua afirmação de que o alvo da vida cristã não pode ser a busca pelo lucro, mas sim da glória de Deus. E buscar a glória de Deus é se submeter à Sua Palavra e ao Santo Espírito, que conduzem o ser humano à partilha e ao amor! Por isso “Calvino denomina os ricos ‘ministros dos pobres’, ao passo que os pobres, enviados aos ricos da parte de Deus para colocar à prova sua fé e sua caridade, são chamados ‘recebedores de Deus’, ‘vigários de Cristo’, ‘procuradores de Deus’”( BIÉLER, 2009, p. 33). É por isso que Calvino se manifesta contra o empréstimo aos necessitados: estes devem receber empréstimos sem juros, ou mesmo serem alvo da partilha de bens pelos mais abastados! Calvino é citado em muitos manuais clássicos sobre história da economia(Por exemplo, HEILBRONER, 1972, pp. 73-77) ou história das doutrinas econômicas(HUGON, 1962, pp. 73-74), mas não raro é mal interpretado. É o que Biéler vai afirmar também sobre os sociólogos, a exemplo de Max Weber. Biéler afirma que “Weber cometeu o grave erro de identificar esse protestantismo com o calvinismo das origens” (Biéler, p. 57). O autor afirma também que “se Max Weber tivesse estudado o calvinismo do século XVI, e não o do século XVIII, teria chegado a outras conclusões. Teria notado certamente que esse calvinismo das origens (...) procurava prevenir-se contra os desvios da natureza humana mediante freios que o evitavam descambar para os excessos de uma sociedade sujeita ao primado do lucro e à regra soberana de sucesso individual”(Biéler, p. 58).
         Biéler aponta várias restrições à usura por parte de Calvino: o reformador “não tem por lícito o recebimento de juros, mesmo quando autorizado pela lei, no caso de empréstimo feito a pessoa pobre. Por outro lado, entende que os juros não devem ser aceitos pelo emprestador se o devedor não ganhar, com o empréstimo obtido, o equivalente a esses juros. Enfim, condena todo e qualquer juro que ultrapasse a taxa normal”( BIÉLER, 2009, p. 54).
         A aprovação de Calvino às taxas de juros cobradas em Genebra, que variaram de 5% ao ano em 1538 para posteriores 6,6% ao ano em 1544, bem menores que as taxas de juros praticadas pelos reis católicos Carlos V e Philippe II, que a limitaram a 12% ao ano(BIÉLER, 2009, pp. 52-53), ao lado da defesa do controle rígido dessas taxas, deixam claro que Calvino não defendia a liberação indiscriminada (ou abusiva) das taxas de juros.



CONCLUSÃO

         Calvino tem muito a ensinar ao mundo e à Igreja contemporânea!
         Calvino aprova a cobrança de juros no caso de empréstimos destinados à produção, que geram emprego e renda. É contra a liberação indiscriminada da taxa de juros, a lógica da especulação financeira e a exploração do necessitado. Proíbe expressamente a cobrança de juros em empréstimos aos necessitados, para que sejam socorridos. Afirma que o alvo de uma economia não deve ser o lucro, mas o bem-estar social. Com sua teologia e prática, Calvino estava séculos à frente de seu tempo! Defendia um desenvolvimento socialmente sustentável!
         Enquanto a Igreja Medieval era contrária à usura, sendo ela mesma uma grande usurária medieval, Calvino se manifesta favorável à cobrança de juros, desde que o empréstimo seja destinado à produção e não leve à exploração do próximo.
         Poderíamos dizer que a usura em Calvino é permitida na perspectiva do bem do próximo e da glória de Deus.

“Para refletir”.
* Que aspectos da teologia e da prática de Calvino em relação à usura você acha que deveriam ser adotados hoje? (Cite alguns exemplos).



BIBLIOGRAFIA

BIÉLER, André. O Humanismo social de Calvino. São Paulo: Pendão Real, 2009
LE GOFF, Jacques. A bolsa e a vida: a usura na Idade Média. São Paulo: Brasiliense, 1986.
SICRE, José L. A Justiça social nos profetas. São Paulo: Paulinas, 1990.
BROWN, Raymond E.; FITZMYER, Joseph A.; MURPHY, Roland E. (editores). Novo Comentário Bíblico São Jerônimo. São Paulo: Academia Cristã/Paulus, 2007.
HUGON, Paul. História das doutrinas econômicas. São Paulo: Atlas, 1962.
HEILBRONER, Robert L. A Formação da sociedade econômica. Rio de Janeiro, Zahar, 1972.

segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Para refletir

"Porque nenhum de nós vive para si mesmo, nem morre para si. Porque, se vivemos, para o Senhor vivemos; se morremos, para o Senhor morremos. Quer, pois, vivamos ou morramos, somos do Senhor. Foi precisamente para esse fim que Cristo morreu e ressurgiu: para ser Senhor tanto de mortos como de vivos" (Romanos 14.7-9).


sexta-feira, 1 de agosto de 2014

As Árvores e o Machado - uma fábula de Esopo

Tenho dois filhos, a Letícia, de 6 anos, e o Miguel, de 3. Antes de dormir, costumo contar histórias e orar com eles. Gosto de contar histórias que ensinam valores e princípios cristãos, estejam estas histórias na Bíblia ou não. Nas férias comprei um livro de fábulas, belamente ilustrado, chamado "Fábulas de Esopo". Na verdade, eu já tinha um livro das fábulas do sábio grego, mas comprei a edição ilustrada para contar as histórias para as crianças e mostrar algumas cenas - que ajudam a entender as histórias. Cada história tem um título, a narrativa e uma conclusão (uma "moral da história"). Hoje, eu gostaria de compartilhar uma destas histórias com vocês.

AS ÁRVORES E O MACHADO
Um lenhador foi até a floresta pedir às árvores que lhe dessem um cabo para seu machado. As árvores acharam que não custava nada atender ao pedido do lenhador e na mesma hora resolveram fazer o que ele queria. Ficou decidido que o freixo, que era uma árvore comum e modesta, daria o que era necessário. Mas, assim que recebeu o que tinha pedido, o lenhador começou a atacar com seu machado tudo o que encontrava pela frente na floresta, derrubando as mais belas árvores. O carvalho, que só se deu conta da tragédia quando já era tarde demai para fazer alguma coisa, cochicou para o cedro:
- Foi um erro atender ao primeiro pedido que ele fez. Por que fomos sacrificar nosso humilde vizinho? Se não tivéssemos feito isso, quem sabe ainda viveríamos muitos e muitos anos!
Moral: Quem trai os amigos pode estar cavando a própria cova.

A moral da história lembra até o Salmo 37:
"Os maus puxam da espada e curvam os seus arcos para matar os pobres e os necessitados e para assassinarem os que são honestos. Mas os maus serão mortos pelas suas próprias espadas, e os seus arcos serão quebrados" (Salmo 37.14-15 - NTLH).

A sabedoria não é justificada pelo que pensam dela! (Mt 11.16-19)

"Mas a quem hei de comparar esta geração? É semelhante a meninos que, sentados nas praças, gritam aos companheiros:  Nós vos tocamos flauta, e não dançastes; entoamos lamentações, e não pranteastes. Pois veio João, que não comia nem bebia, e dizem: Tem demônio! Veio o Filho do Homem, que come e bebe, e dizem: Eis aí um glutão e bebedor de vinho, amigo de publicanos e pecadores!" (Mateus 11.16-19ab)

Não dá para viver em função do que os outros pensam de nós. Não é possível agradar a todos. Para alguns, nada é suficiente, nada basta, nada está bom.

Primeiro veio João Batista, pregando o Reino de Deus no deserto:
"Naqueles dias, apareceu João Batista pregando no deserto da Judéia e dizia: Arrependei-vos, porque está próximo o reino dos céus" (Mateus 3.1-2).
Ora,
"veio João, que não comia nem bebia, e dizem: Tem demônio!" (Mateus 11.18).

Depois, veio Jesus de Nazaré, pregando o Reino de Deus entre o povo:
"Daí por diante, passou Jesus a pregar e a dizer: Arrependei-vos, porque está próximo o reino dos céus" (Mateus 4.17).
Ora,
"Veio o Filho do Homem, que come e bebe, e dizem: Eis aí um glutão e bebedor de vinho, amigo de publicanos e pecadores!" (Mateus 11.19ab)

Mas a sabedoria não é justificada por regras, fórmulas, aparência, status, marketing ou ritos... Mas a sabedoria não é justificada pela comida, pela bebida ou pelo jejum... Mas a sabedoria não é justificada pelo que a maioria pensa dela...

"Mas a sabedoria é justificada pelas suas obras" (Mt 11.19c).

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